Escolas de tempo integral devem ser mais bem preparadas As instituições devem oferecer aprendizado interdisciplinar por meio de disciplinas tradicionais e atividades artísticas e esportivas
Repórter
4/11/2009
A Lei de Diretrizes e Bases do governo federal prevê a progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino fundamental para o regime de escolas de tempo integral. Entretanto, para que o modelo seja alterado, é preciso avaliar fatores como investimentos, localização e ampliação do período escolar sem prejuízo da demanda de alunos. As práticas e políticas adotadas nas escolas de tempo integral foram discutidas durante o III Seminário de Educação em Tempo Integral, realizado entre os dias 3 e 4 de novembro.
Para a pesquisadora em Educação Integral e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lígia Martha Coelho, não existe um modelo único de educação integrada, mas práticas e concepções diferenciadas. "É fundamental que se pense no todo, quando o projeto de jornada ampliada for implantado. Todos os setores da escola devem estar preparados para a prática. Os professores, por exemplo, precisam receber formação diferenciada."
Ela acredita que a escola em tempo integral deve oferecer, além das atividades tradicionais, que incluem disciplinas previstas na grade curricular, exercícios artísticos e esportivos. "Deve haver uma interdisciplinaridade. Não adianta promover oficinas sem estabelecer vínculos com as aulas tradicionais." A pesquisadora defende que a jornada integral necessita ser oferecida principalmente em séries básicas de formação, ou seja, das séries iniciais até o quinto ano do ensino fundamental.
Segundo a professora da Faculdade de Educação da UFJF, Luciana Pacheco Marques, o projeto de educação ampliada deve ser pensado de forma a integrar os vários saberes. "Assim, os alunos estarão inseridos de forma mais aprofundada no processo educacional, tendo como diferencial a visão mais ampliada da educação. Trabalha-se a parte estética, comportamental, moral e filosófica, além da cognitiva e instrumental."
Em Juiz de Fora cinco escolas municipais trabalham com jornada integral. São elas: a Escola Municipal Bom Pastor, a Maria José Vilella, a Dom Justino José de Sant’Anna, a Professor Nilo Ayupe e a José Calil Ahouagi. Ao todo, 986 alunos são atendidos em tempo integral, permanecendo na instituição de oito a nove horas por dia, enquanto os de escolas regulares ficam por quatro horas. Desde agosto de 2006, um projeto da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da Secretaria de Educação da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) tem como objetivo a implantação e o acompanhamento das escolas de tempo integral, por meio de visitas realizadas semanalmente por bolsistas da UFJF e por reuniões semanais entre profissionais das instituições e da universidade.
Melhorias na estrutura física e na merenda escolar
Entre as adequações que devem ser feitas nas escolas para que funcionem em tempo integral estão a estrutura física e a merenda escolar oferecida aos estudantes. Uma funcionária da Escola Municipal Bom Pastor, que preferiu não se identificar, denunciou a qualidade da merenda oferecida aos alunos. De acordo com ela, os estudantes, que não podem levar alimentos de casa, reclamavam que estavam com fome por receberem alimentos de baixo valor nutritivo. "Não é possível apenas aumentar o período de permanência nas escolas, é necessário que tudo se adapte a esta mudança."
De acordo com a supervisora de alimentação escolar da PJF, Denise Scoralick, uma equipe de nutricionistas é responsável por elaborar o cardápio a ser seguido pelas cozinheiras das escolas de tempo integral. "Existe um diferencial neste caso porque consideramos o tempo de permanência dos alunos nas instituições, o que faz com que o número de refeições seja maior do que é oferecido por escolas regulares. O valor nutricional é adequado e aumentado. Além disso, consideramos a necessidade nutricional para as diferentes faixas etárias." A supervisora explica ainda que os nutricionistas acompanham o planejamento de compras e a distribuição dos alimentos.
Sobre a escola denunciada, Denise afirma que a mesma recebeu uma visita dos profissionais. "Orientamos a direção e as cozinheiras a respeito da necessidade de que o cardápio definido previamente seja seguido para que não haja prejuízo nutricional aos alunos."
Os textos são revisados por Madalena Fernandes
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