Pesquisa revela problemas nas escolas públicas da cidadeUm dos dados mais preocupantes diz respeito ao alto índice de violência contra professores nas instituições públicas de ensino

Aline Furtado
Repórter
1/6/2010

Em Juiz de Fora, 47,2% dos professores de escolas públicas municipais, estaduais e federais foram vítimas de xingamentos, dentro dos locais de trabalho, entre os meses de setembro de 2008 e outubro de 2009.  Este foi um dos resultados encontrados na pesquisa Fala Juiz de Fora, desenvolvida pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), cujas conclusões foram divulgadas nesta terça-feira, 1º de junho. O trabalho buscou verificar a situação da juventude, da escola e da população da cidade.

O trabalho, realizado pelo Centro de Pesquisas Sociais (CPS), aponta que 27,3% dos docentes sofreram agressão moral nos doze meses que antecederam a pesquisa, 19,7% foram vítimas de fofocas maldosas, 17,5% receberam ameaças de agressão, 12,7% foram vítimas de furtos, 7,4% foram chantageados e 7% foram agredidos fisicamente.

De acordo com o diretor do CPS, Carlos Alberto Hargreaves Botti, os dados revelam a deterioração do espaço escolar. "Os problemas estão explodindo dentro da escola e a sociedade não busca resolvê-los, ao contrário, passa à instituição de ensino esta responsabilidade. Estes dados demonstram a quebra de hierarquia, a inversão de valores na sociedade atual. Isto prejudica diretamente o aprendizado escolar."

Botti acredita que a banalização da violência é fruto do despreparo da sociedade com relação à nova estrutura familiar. "A família que vemos nos dias atuais não é mais aquela em que o marido é o provedor e a mulher cuida dos filhos. Hoje, a mulher trabalha fora de casa, o que faz com que a responsabilidade de cuidar das crianças seja delegada a outra instituição." Para ele, a solução não se encontra dentro da escola.

O diretor explica fatores que podem ser fundamentais na diferença entre a realidade das escolas públicas e das particulares. "As mães de alunos de escolas públicas saem de casa para trabalhar, muitas vezes para cuidar de crianças e de adolescentes que estudam em escolas particulares. Ou seja, as mães de alunos de escolas particulares saem para trabalhar, mas são substituídas pelas mães de alunos de escolas públicas.

Diante desta realidade, as crianças e adolescentes que frequentam escolas públicas ficam sem referência. "Além disso, no caso de escolas particulares, os alunos desenvolvem atividades paralelas, o que evita com que fiquem nas ruas." Para Botti, esta realidade pode explicar os baixos índices de violência em instituições particulares de ensino.

Diante das conclusões, o professor destaca que uma das soluções poderia estar na escola de tempo integral. "Não podemos repassar a realidade apenas a este segmento, mas creio ser um horizonte porque minimamente ela tira a criança das ruas. A escola deve ser vista como um dos agentes de socialização e não ter a responsabilidade total."

O objetivo do levantamento, segundo Botti, é conhecer a educação na cidade. "Os dados serão entregues à Superintendência Regional de Ensino e à Secretaria de Educação. Nossa intenção é que estes sirvam para elaboração e proposição de políticas públicas." Para a coleta dos dados, foram aplicados 502 questionários a professores de 60 escolas da rede pública de Juiz de Fora. A margem de erro é de 4,5%. Na etapa que inclui os alunos, foram entrevistados 569 estudantes. A margem de erro neste caso é de 2,5%.

Professores

Um dos resultados da pesquisa foi a concentração de mulheres exercendo a função de docente, o que equivale a 81,1%. Ao analisar a distribuição por faixa etária dos professores, foi verificado que as duas faixas de extremidades, de menos de 21 anos até 29 anos e de 50 anos ou mais, apresentaram, respectivamente, 14,8% e 14,4%, o que demonstra que as idades intermediárias apresentam maior concentração, com percentual igual a 70,8%. "Estes números sugerem a redução na entrada de docentes e a saída precoce dos mesmos da profissão."

Com relação à escolaridade, 95,6% dos professores possuem curso superior, 58,5% possuem especialização e 7% mestrado. O percentual restante, 4,4%, está dividido entre 2% que declararam possuir ensino médio completo e 2,4% com superior incompleto.

Um dado preocupante, segundo o diretor, é a distribuição das aulas. Os resultados demonstraram que 48,2% dos professores dão mais de 30 horas-aula por semana e que 9% dão mais de 40. "A docência é reconhecida como uma atividade desgastante e esta carga horária acaba refletindo em quadros de estresse e depressão e problemas na fala, os mais citados durante a pesquisa." Entre os principais problemas apontados pela categoria estão a desvalorização profissional e aqueles relacionados com os alunos, como a indisciplina, a violência, o desinteresse, o desrespeito, entre outros.

Alunos

Entre os alunos, 15,4% dos entrevistados têm filhos, o que, para Botti, pode ser considerado um dado preocupante, visto que os estudantes que participaram da pesquisa têm idade superior a 14 anos. Deste total, 50,9 são alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e 49,1% do ensino regular.

Um percentual de 47,8% de alunos entrevistados declarou exercer alguma atividade relacionada ao trabalho, sendo que 40,7% de forma sistemática. No caso da escolaridade do chefe de família, 36,5% têm até a 4ª série do ensino fundamental, 25,8%  têm ensino fundamental completo e 8,3% têm o superior completo.

Ao todo, 62,5% dos alunos afirmaram possuir computador em casa, percentual superior ao encontrado na população em geral, 53,9%. Contudo, 13,9%  dos estudantes não têm acesso à internet. "A falta de computadores em 37,5% das moradias dos alunos demonstra a necessidade de implantação de alternativas por parte do poder público para facilitar o acesso à internet."

Sobre a profissão que gostariam de seguir quando terminarem os estudos, a maioria dos alunos entrevistados citou a carreira militar, seguida do Direito, Medicina, Engenharias, Educação Física etc. "Isto demonstra uma lógica racional, visto que a carreira militar é bem acessível a esta camada social."

Juventude

Aos serem questionados a respeito da primeira palavra que lembravam ao ouvirem a palavra "juventude", a maioria dos representantes dos segmentos população, professor e aluno ouvidos disse expressões positivas, como "alegria", "estudiosos" e "inteligência". Entretanto, ao serem perguntados sobre o que pensam da juventude de hoje, os termos citados apresentaram cunho negativo, como "violência", "drogas" e "descompromisso".

Para Botti, o que mais chama atenção é o fato de a própria juventude se enxergar de maneira negativa. "Quase toda a expectativa depositada nos jovens de hoje é negativa. Quando se vê segmentos desta forma, existe tendência de ações negativas."



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