Cinema pode se tornar uma ferramenta de auxílio no processo de aprendizagemUso de filmes no ambiente educacional pode contribuir para estimular reflexões, sentimentos e curiosidade, além de quebrar preconceitos

Aline Furtado
Repórter
20/11/2010
Sala de aula

Se trabalhado de forma a proporcionar um intercâmbio entre as disciplinas escolares, incentivando a busca pelo novo, o cinema pode se tornar uma importante ferramenta de auxílio no processo de aprendizagem. Isto porque a arte pode conduzir a reflexões, sentimentos e à curiosidade.

Contudo, segundo a cineasta, fotógrafa e secretária executiva da ONG Cinema e Educação (Cineduc), Bete Bullara, o principal desafio a ser vencido quando se pretende levar filmes para a sala de aula é a barreira imposta pela direção pedagógica da instituição escolar.

"É comum ouvirmos que o filme será exibido porque o professor não quer dar aula. Como se fosse uma espécie de modo usado para passar o tempo. Assim, cabe ao professor fazer bom uso da ferramenta, explicitando os resultados." Outro aspecto importante apontado por Bete é quanto à expectativa dos educadores. "Não se deve pensar no cinema como ferramenta pedagógica imediatista. Embora os resultados possam variar de turma para turma, geralmente o que se vê é que as mudanças ocorrem com o passar do tempo."

Mas, como alerta a especialista, o elo entre as diversas disciplinas, com possibilidade de ir além do que é proposto pela grade curricular, é fundamental. Com base nisso, Bete destaca que o uso da imagem pode ser inserido na escola a partir dos ciclos escolares iniciais. "A intenção de todo o trabalho deve estar focada na possibilidade de expansão da visão de mundo. É uma forma de proporcionar conhecimento e entusiasmo, o que influencia diretamente no prazer pela vida."

Segundo ela, o primeiro passo é instigar o interesse do aluno com relação a outras formas de linguagem. Até porque uma das dificuldades, encontradas em diferentes níveis socioeconômicos, diz respeito ao preconceito estético e de linguagem que acompanha crianças, adolescentes e jovens.

"O que se vê é a forte presença dos filmes americanos, que pregam e reforçam estereótipos como a mulher bonitona e o mocinho galã. Se não for desta forma, ocorre rejeição", lembra Bete, justificando que os títulos são mais acessíveis, até mesmo em função da televisão. De acordo com Bete, muitas pessoas têm dificuldades simples, como identificar cenas em flashback, já que não existe a linearidade, trabalhada mais comumente em filmes de cunho comercial. Além disso, ela lembra do preconceito com relação às produções nacionais.

Experimentar é a palavra de ordem

Para Bete, não existem regras quanto aos filmes a serem indicados a cada grupo de alunos. "Como cada turma tem sua história, o que vai influenciar diretamente nos seus gostos, preferências, modo de pensar e agir, cabe ao educador descobrir qual é o melhor caminho, usando de sua sensibilidade para aguçar a curiosidade e o interesse do outro."

A partir de então, é possível ampliar o trabalho, de forma a quebrar os preconceitos e incentivar a possibilidade de mudança. "E mudar é fácil quando se trabalha com jovens, que acabam atuando como disseminadores e agentes de renovação junto às famílias e à comunidade." A especialista ressalta que a opção pelos curtas é interessante por se encaixarem melhor no tempo das aulas.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken



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