Setor de hospedagem carece de profissionais especializados De acordo com especialistas, falta mão de obra especializada. O fato deve ficar ainda mais evidente nos próximos anos devido à previsão de crescimento do setor

Thiago Stephan
Repórter
10/3/2012
hospedagem

A confirmação da realização da Copa do Mundo, em 2014, e dos Jogos Olímpicos, em 2016, no Brasil já vem aquecendo sensivelmente o setor de hotéis, que já vivenciava franco crescimento antes mesmo do anúncio sobre a sede dos eventos esportivos.

De acordo com o Ministério do Turismo (MTur), entre 2002 e 2008, houve alta de 31,01% no número de alojamentos hoteleiros no país. Para os próximos anos, o MTur prevê crescimento acelerado em razões de condições externas e internas. Diante deste cenário, profissionais da área revelam que aqueles que estão em busca de emprego no setor de hospedagem devem investir em capacitação profissional. Segundo eles, ainda falta mão de obra qualificada, carência que deve ficar mais flagrante nos próximos anos.

O presidente do Sindicado dos Empregados no Comércio Hoteleiro de Juiz de Fora e Região, Edivaldo Dornelas, relata que existem, atualmente, cerca de 950 pessoas trabalhando no setor na cidade. Só os seis maiores hotéis do município são responsáveis por empregar 550 desses profissionais. "Está havendo grande procura por mão de obra, já que muitos estão deixando Juiz de Fora e indo para o Rio de Janeiro, principalmente os cozinheiros", revelou. De acordo com Dornelas, a procura deve se intensificar nos próximos anos.

Só em um hotel localizado na avenida Rio Branco, trabalham cerca de 80 pessoas. O gerente de eventos do estabelecimento e turismólogo, Bruno Aquino, explica que a vocação da cidade é para o turismo de negócios. Tanto que a maior ocupação é registrada de segunda à sexta-feira. Ele acredita que o setor, em Juiz de Fora, viverá um boom nos próximos anos devido à Copa do Mundo e às Olimpíadas, sobretudo pela posição geográfica da cidade, situada entre o Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo.

O mercado já está prevendo isso, com o lançamento de novos empreendimentos. "A gente já tem carência de mão de obra especializada. São muitas funções dentro do hotel. Temos dificuldade para encontrar profissionais capacitados. E, devido ao cenário que a gente vê hoje e aos eventos que vão ocorrer em breve, creio que haverá falta ainda maior de profissionais capacitados. Acho que vale a pena investir neste ramo de trabalho", observa Aquino.

Perfil do profissional

No Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste) - Campus Barbacena existem dois cursos voltados para o setor. Um deles é o Curso Técnico em Hospedagem, o outro é o Curso de Tecnologia em Gestão de Turismo. De acordo com o bacharel em Turismo e coordenador geral de ensino do IF Sudeste – Campus Barbacena, Valdir José da Silva, o profissional ligado à hospedagem pode atuar em quatro áreas, reserva, recepção, governança e eventos. Confira a entrevista:

ACESSA.com: Como é a atuação do profissional?

Valdir José da Silva: O profissional poderá atuar em quatro áreas da hospedagem: reserva, recepção, governança e eventos. Também atua em outras áreas, mas essas são as principais. Além de conhecimentos de procedimentos padrões, é preciso ter domínio de mais de uma língua, e, principalmente, ter atitude. O eixo é hospitalidade e lazer. É preciso que tenha uma propensão para bem receber. Quem está se hospedando está longe do seu domicílio. Por isso, precisa de informações da cidade, restaurantes, diversão... É preciso ter um profissional com múltiplas competências.


ACESSA.com: Como está o mercado de trabalho?

V.J.S.: O mercado de trabalho tem crescido, com ótimas perspectivas, sobretudo pelos grandes eventos que vão acontecer no Brasil. Além de atrair turistas do exterior, provocam um turismo interno muito grande. Por mais que as sedes da Copa sejam nas capitais, o interior sente o efeito multiplicador.


ACESSA.com: Existe demanda para mão de obra especializada?

V.J.S.: Existe uma demanda grande, mas não é uma demanda explícita. No Brasil, ainda existem muitos meios de hospedagem que não se deram conta da necessidade de capacitação.


ACESSA.com: Qual o perfil que o profissional que atua em hospedagem deve ter?

V.J.S.: O técnico em hospedagem deve ter ética e responsabilidade socioambiental. O trabalho não está restrito a hotéis, há, ainda, spas, pousadas, casas de repouso, acampamentos, navios de cruzeiro, eventos, entre outros. Tudo isso é campo de atuação do profissional. Atualmente, um setor que tem crescido muito é a hospedagem hospitalar. Não basta apenas tratar o paciente, é preciso pensar no bem-estar dele e dos familiares.

Retrato da hospedagem no Brasil

De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) encomendada pelo MTur, as 27 capitais brasileiras dispõem de 250.284 unidades habitacionais, totalizando 373.673 leitos, suficientes para atender a 554.227 hóspedes. A oferta existente no entorno das principais cidades brasileiras, inclusive nas regiões metropolitanas, será quantificada na próxima etapa da pesquisa. "Teremos em mãos um instrumento que nos permitirá melhor estruturar e planejar políticas públicas para o setor", explica o ministro do Turismo, Gastão Vieira, por meio da assessoria de imprensa do MTur.

Ainda segundo o ministério, atualmente existem R$ 2,3 bilhões disponíveis em linhas de financiamento voltadas para a construção e a ampliação do parque hoteleiro das cidades-sede da Copa do Mundo. São recursos provenientes da linha de crédito BNDES Procopa e dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O valor representa a modernização de 3.688 quartos e a incorporação de 7.560 novas unidades habitacionais.

"Os dados do IBGE somados aos investimentos em curso pela indústria hoteleira nos permitem afirmar que não teremos problemas de hospedagem durante eventos internacionais que receberemos no Brasil", afirma Vieira. O Ministério do Turismo pretende, ainda, investir na melhoria da qualidade do serviço prestado ao turista, seja por meio da qualificação dos trabalhadores do setor, seja por meio da articulação com o setor turístico para a melhoria da qualidade dos equipamentos turísticos brasileiros, inclusive hotéis.

Os textos são revisados por Mariana Benicá

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