As l?grimas de Cielo
Em m?s ol?mpico ? bastante comum que os aparelhos de televis?o estejam sempre ligados, a qualquer hora, nas lojas de eletrodom?sticos e at? nos botecos. Nesse ?ltimo caso, distrai o gar?om, atrapalha a conversa e tira o clima sagrado do bar. Mas, parece, eles (os aparelhos ligados) s?o imprescind?veis. Como se fosse obrigat?rio e necess?rio a todos saber que uma chinesa bateu uma tailandesa na final do Badmington ou ter na ponta da l?ngua o quadro geral de medalhas, atualizado a cada competi??o.
Na madrugada de sexta para s?bado, estava diante de uma televis?o (n?o solicitando carn? nas Casas Bahia) quando um bando de homens esquisitos, de ?culos que mais se assemelham a olhos mec?nicos, vestindo mai?s estranhos, que lhes conferiam um toque futurista de andr?ides p?s-Blade Runner, pulou na piscina. Imposs?vel saber quem era quem, raia a raia, qual a nacionalidade e as chances de cada competidor. As imagens, intercaladas, ora de uma cabe?a humana saindo da ?gua para respirar, ora de corpos humanos deslizando abaixo da borda da piscina. "N?o sois homens, peixes ? o que sois", pensei.
Durou pouco mais de 21 segundos esse espet?culo. Acabou a competi??o e mais r?pido do que piscar os olhos apareceu na tela a classifica??o final, com as bandeirinhas dos pa?ses dos atletas que subiriam ao p?dio: Brasil, Fran?a e Fran?a. No bar houve um frenesi (? ouro! ? ouro! Brasil!), seguido de um estupor coletivo: n?o ? o Thiago Pereira - de quem todos esperavam tudo - e sim C?sar Fialho, depois corrigido devidamente para C?sar Cielo - de quem nada se falava.
C?sar Cielo passou ent?o a ser o orgulho daquela pequena turma de brasileiros que bebia e assistia ? televis?o, naquela madrugada de sexta para s?bado. O nadador ent?o passou a chorar. Primeiro, ainda na piscina. Depois a caminho do vesti?rio, e, por fim, ao receber a medalha de ouro, para espanto dos dois franceses que lhe faziam companhia no p?dio.
Acho que C?sar Cielo ainda vai chorar mais. N?o me parece que ele chora de alegria ou orgulho. ? um choro contido, quase envergonhado, de quem quase deixou de acreditar que podia, um dia, passar de peixe a homem.
Uma olimp?ada ? um evento t?o espetacular que acaba, com o passar dos anos, servindo como um marcador de tempo. Auxilia a mem?ria: ligar a ousadia de terroristas ?rabes a Munique/1972, a perfei??o de Nadia Comaneci a Montreal/1976 e um outro choro (o do urso Misha) a Moscou/1980. Muita coisa ainda vai acontecer mas acredito, desde j?, que as l?grimas de C?sar Cielo - o primeiro campe?o ol?mpico da nata??o brasileira - ser?o para todo o sempre a marca de Pequim/2008.
No pr?ximo domingo, dia 24, vai come?ar de novo, quase na surdina (como ? de h?bito), mais uma saga dos carij?s. Sob nova dire??o, o Tupi Futebol Clube vai a Uberl?ndia enfrentar o time do tri?ngulo pela primeira rodada da Ta?a Minas.
Depois das l?grimas de C?sar Cielo ? o acontecimento esportivo mais importante do m?s. Vai acabar aquela sensa??o inc?moda, das tardes de domingo, de olhar em dire??o ao Est?dio M?rio Hel?nio ou lan?ar m?o do radinho de pilha e descobrir que o Galo n?o est? em campo.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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