Com boa vantagem de Dilma sobre Serra em Juiz de Fora, desafio do PT local é chegar à PrefeituraNa cidade, Dilma teve 68,84% dos votos válidos contra 31,16% de Serra. Eleitorado segue tendência oposicionista, já que desde 1989 tem escolhido presidentes petistas

Clecius Campos
Repórter
1/11/2010
Foto de Dilma Rousseff

A expressiva votação dada à presidente eleita Dilma Rousseff (PT) em Juiz de Fora segue a tendência oposicionista do eleitorado local, que desde 1989 tem escolhido o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições majoritárias nacionais. Na cidade, Dilma foi eleita com 68,84% da preferência, contra 31,16% do adversário no segundo turno José Serra (PSDB). A diferença foi de 103.613 votos. Em todo o país, Dilma foi eleita com 56,05% dos votos válidos, contra 43,95% de Serra.

Mesmo com o bom desempenho na eleição nacional, o diretório local do partido ainda não foi capaz de chegar à Prefeitura. Para o cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, este é o grande desafio do PT em Juiz de Fora. "A vitória de Dilma é o indicativo de um padrão que se manteve na cidade desde a primeira eleição pós-redemocratização. Reforça a ideia de um eleitorado mais tendente à esquerda. Para o PT local, talvez o grande desafio seja sistematicamente conseguir que esse resultado tenha repercussão também nas eleições municipais."

O presidente do Diretório local do PT, Rogério de Freitas, afirma que a eleição de Dilma e a vantagem obtida sobre o adversário é combustível para que a militância se reencontre. "A militância progressista pôde perceber que, quando está unida, consegue vitórias importantes. Isso vai ser importante daqui para a frente." Segundo Freitas, o trabalho para os próximos dois anos é de convencer partidos aliados da importância de estarem juntos. "A cidade tem o desejo de ver em Juiz de Fora um governo que guarde semelhanças com a forma que Lula governa, que é aliando desenvolvimento econômico e justiça social."

Freitas acredita que o momento é de aprender com a eleição nacional e começar a trabalhar em uma candidatura petista em 2012. "Pela votação que teve na última eleição municipal e pelo desempenho como a candidata federal mais bem votada por juizforanos na história, Margarida [Salomão - PT] está absolutamente credenciada a representar o partido em 2012." Concorrendo ao cargo de deputada federal, Margarida conquistou 66.779 votos (25,4%) em Juiz de Fora.

A vitória de uma mulher nas eleições presidenciais é vista por Leal como um "marco simbólico importante". Porém, ele afirma não saber se é possível uma transferência automática dos votos dados à Dilma para outras candidatas. "Apesar da vitória de Dilma, não quer dizer que o quadro geral da participação feminina seja tão grande, pelo contrário. A escolha de uma mulher para a Presidência está longe de ser suficiente para ocultar o fato de que há um terreno imenso a ser percorrido, para que parâmetros menos catastróficos da participação feminina na política sejam vistos em todo o país."

Dilma vence em Minas por 58,45% a 41,55%

A vitória de Dilma em Minas Gerais ocorreu com vantagem de quase 17 pontos sobre Serra. O candidato tucano chegou a vencer em algumas cidades importantes, como na capital Belo Horizonte, por 50,39% a 49,61%. Vitória apertada de Serra também em São João del Rei, cidade do senador eleito Aécio Neves, com 51,59% a 48,41%. Boa vantagem em Varginha, no Sul de Minas — 63,66%, contra 36,34% de Dilma —, cidade com grande influência do eleitorado paulista. Porém, Dilma mostrou-se superior em cidades do Triângulo e do Norte de Minas, como em Uberlândia e em Montes Claros, onde venceu com vantagem de 34 pontos.

Foto de Dilma em comício em Juiz de Fora Foto de Dilma em comício em Juiz de Fora

Na análise de Paulo Roberto Leal, a votação em Minas Gerais está mais relacionada à aprovação do governo Lula que às influências políticas ou aos benefícios pontuais de programas sociais. "Dilma venceu também em municípios menos beneficiados pelo Bolsa Família. A eleição de Dilma se dá por muitos outros processos e um dele é a de ser candidata de um governo bem avaliado. O raciocínio geral que vejo é o de que a mesma população que estava satisfeita com o governo de Aécio e elegeu Anastasia, mostrou-se satisfeita com o governo Lula e elegeu Dilma."

O governador reeleito Antônio Anastasia (PSDB) comentou a vitória de Dilma e considerou que a escolha pela continuidade tanto no governo estadual quanto no federal "se antevia". "Isso já era discutido há mais tempo e percebeu-se que os mineiros decidiram, juntamente com os brasileiros e a maioria dos estados, pela continuidade, ou seja, pela manutenção dos governos estaduais e do governo federal por razões que, naturalmente, serão estudadas e explicadas pelos especialistas." Anastasia afirmou que terá um "relacionamento administrativo" com a presidente eleita. "Vamos ter um relacionamento administrativo, sempre com muita serenidade, como aliás foi o relacionamento do presidente Lula com o governador Aécio e comigo, nesses meses."


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