Os caminhos do elefante
? claro que ? um elefante, embora n?o seja branco e sim tingido pelas cores da cidade: verde, vermelho e azul.
Mas, independente da cor do elefante n?o consigo (nem com um esfor?o sobre- humano, em contraste com a famosa mem?ria dos paquidermes) me lembrar do primeiro jogo que vi l?. Acho que as emo?es, somada ? suntuosidade e a import?ncia do momento, bloquearam para todo o sempre as minhas reminisc?ncias nesse sentido. Sei, com certeza, que n?o foi a partida inaugural - pode parecer estranho a muita gente, mas est? para nascer o dia em que me deslocarei para ver Flamengo (!!!?) x Argentinos Juniors (???!).
E sei, tamb?m - e isso hei sempre de lembrar, quando a velhice e a decad?ncia final me atingirem em Galil?ia - que cada vez que vou l? sinto uma emo??o diferente.
Quando apare?o como torcedor, entro pelo port?o do Don Orione. ? o mesmo ritual. Desembarcado do ?nibus, quase nenhuma fila para o ingresso e a revista rotineira da Pol?cia Militar (certa vez, um desses zelosos policiais me impediu de entrar com um guarda-chuva, com medo que eu usasse o objeto para atacar um torcedor rival - naquele dia um improv?vel adepto do Atl?tico de Tr?s Cora?es, que, afinal, n?o apareceu). Depois na descida da rampa, j? ? poss?vel vislumbrar o - quase sempre - pouco p?blico e o tapete - invariavelmente - verde. Em seguida, ganha-se o topo da arquibancada, confere-se a presen?a do senhor Augusto atr?s da meta, ? direita das cabines de r?dio, e encaminha-se para o centro da Arena, tendo como refer?ncia a linha que divide o gramado. Ent?o, ? s? aguardar. Cada jogo ? uma hist?ria.
O maior desses jogos, visto das arquibancadas, foi o massacre carij? sobre o Avai (esse time que, hoje, est? prestes a subir para a Primeira Divis?o do Campeonato Brasileiro). Um incontest?vel 8 a 1, quando como nunca o Tupi se mostrou insaci?vel, como se fizesse parte de uma alcat?ia faminta diante de uma presa fr?gil.
Quando compare?o como convidado, reverencio sempre M?rio Hel?nio, principalmente depois de adentrar as cabines. Aquele ambiente de vozes conhecidas e vis?es distintas ? t?pico dele. Poucas vezes um nome de est?dio foi t?o bem escolhido. ? a aura do famoso radialista que impregna cada canto daquele espa?o.
A maior dessas vis?es helen?sticas, vista da cabine, foi outra goleada carij?, sobre a URT, por 4 a 0, no dia em que n?s descobrimos o talento do t?cnico Welington Fajardo.
E finalmente, quando apare?o no est?dio a trabalho, sou v?tima de uma surdez e uma cegueira estranhas. A aus?ncia auditiva come?a quando trespasso o port?o principal, e o burburinho dos torcedores que chegam se confunde com as perguntas burocr?ticas dos funcion?rios. A perda moment?nea da vis?o se manifesta ao cruzar o sagu?o que d? direto ao gramado. Principalmente para um jogador frustrado, como eu, h? algo de m?gico ali, como se a gente caminhasse nas nuvens ou nos campos do Senhor.
Foi dali, ? beira do gramado, completamente atordoado, que vi, trabalhando, aquele inesquec?vel jogo contra o Juventus, quando subimos de divis?o, contra todas as probabilidades. Foi no dia em que fui xingado pelo t?cnico Z? Luiz (n?o como carij?, mas sim como rep?rter) e que, apesar dessa m?goa, descobri o quanto amo esse elefante colorido que ? o est?dio M?rio Hel?nio.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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