Paixão pela bola que ultrapassa gerações
Forma de educação: o esporte se torna uma forma se transmitir valores e afeto familiar
Repórter
21/06/2014
A transposição do amor pela bola e pelos lances de pai para filho ganha contornos ainda mais expressivos em tempos de Copa do Mundo. E os juizforanos são a prova disso. A ACESSA.com buscou dois casos que expressam a paixão pelo futebol e que vão além da diversão: passam a resgatar valores.
Adepto à criação do filho através do esporte, o jornalista e professor universitário Ricardo Bedendo, 40, apresenta o universo da bola ao seu filho Marcelo, de 4 anos. "Quando a gente começa a trabalhar com as crianças o lado pedagógico do esporte, o retorno é muito intenso. Pela percepção que elas têm, em todos os aspectos, tanto pelo lado cívico, quanto pelo físico. Vejo isso através do meu filho, jogando bola com ele de uma forma lúdica", conta.
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A percepção do jornalista fica ainda mais clara quando se lê uma de suas crônicas publicadas em sua conta numa rede social, que expressam a profunda relação que tem com o pequeno. "A inspiração vem da minha paixão pelo esporte, pelo jornalismo e é um momento de extravasar as minhas emoções, a relação com meu filho, tentar mostrar para as pessoas que este sentimento que temos a partir dessa visão lúdica, pedagógica, sentimental, humana".
"...corre pra galera guri e vibra com vontade, porque é mesmo magnífico o tremular do lábaro...e como é extraordinária essa tremedeira gostosa de apego pelo país..."
Trecho de uma das crônicas publicadas por Bedendo
Mais do que reforçar no filho a paixão pela seleção verde e amarelo, o ideal de Bedendo é reforçar valores. "É importante a gente saber aproveitar momentos como esse da Copa do Mundo para trabalhar com as crianças os aspectos pedagógicos. A gente está resgatando valores humanos que vão se perdendo neste mundo corrido. É mostrar para a criança o momento de perder ou ganhar, ensinar sobre o equilíbrio entre torcedores até mesmo na hora de uma gozação entre times", explica.
Paixão rubro-negra
Ricardo introduz no filho a torcida de seu time de coração: o Flamengo. No entanto, ele reconhece que o filho ainda pode seguir outro caminho, tendo em vista que a preferência de seu pai pelo Fluminense não foi um fator decisivo para se apaixonar pelo tricolor.
"É uma história engraçada que acontece com muitas famílias. Meu pai é Fluminense e eu sou flamenguista apaixonado. Meu tio Antônio Flávio, conhecido como Barão, é um flamenguista expressivo e desde pequeno, na década de 80, me levava para as passeatas e carreatas das comemorações dos títulos. Eu me apaixonei pelo meu time. Trabalho com meu filho a paixão pelo Flamengo, mas sempre tem um pessoal que quer levar para o outro lado (risos)", relata.
Questionado sobre a possibilidade de Marcelo seguir uma paixão por outro time, ele faz um breve silêncio e prossegue. "Se o Marcelo disser que vai torcer pelo Botafogo, Vasco, Fluminense ou qualquer outro time, eu sei que vai doer, mas eu vou tentar compreender também, vou fazer um esforço. Claro que vou tentar reverter isso, mas vamos criar um clima de respeito e equilíbrio dentro de casa", admite.
Era jogando bola que a gente dizia que se amava
A relação familiar intermediada pelo futebol é compartilhada pelo assistente social José Anísio da Silva, o Pitico, 53. Falar da proximidade com seu pai, José Adalberto da Silva, falecido aos 78 anos em maio deste ano, é um prazer que ele expressa de forma singela. Da parceria nas partidas no asfalto do bairro Fábrica à fanática torcida ao acompanhar os jogos pela TV, ele demonstra a forte ligação paternal.
"A gente jogava bola na rua. Meu pai era representante comercial e, aos sábados à tarde, quando chegava das viagens, ele já trazia uma bola, deixava a mala em casa e íamos jogar futebol com os colegas. Ficávamos de duas até às seis da tarde na rua do quartel. A cada vez que a gente tocava a bola um para o outro, era uma forma de dizer 'eu te amo'. Uma representação afetiva muito importante pra mim proporcionada pelo futebol", emociona-se.
Nascido em Porciúncula, no norte do estado do Rio de Janeiro, Pitico veio para Juiz de Fora com a família aos sete anos de idade. Tímido, mas com uma forte afixação pelos gramados, chegou a treinar no Tupi, mas teve o sonho de ser jogador profissional interrompido pela mãe. "Tive a oportunidade de treinar no time do Vasco pelas mãos do Friaça (conterrâneo, atacante da Seleção Brasileira na Copa de 50), só que mais tarde fui saber que minha mãe é que não liberou", conta, sem mágoas.
Pitico lembra dos momentos em torcia pela Seleção Brasileira na sala de casa, reunindo-se com o pai e os amigos. "A gente torcia muito junto lá em casa. A copa que mais marcou foi a de 82, quando a gente perdeu para a Itália, nos três gols do Paulo Rossi. Era uma grande seleção comandada pelo Telê Santana. Vibramos muito, mas no final não deu", lamenta.
Seguindo a forma de criação que recebeu, Pitico diz que agora aprende com o filho, o jornalista Pedro Brasil, 25, uma nova forma de conhecer o futebol. "Acredito que ascendência do pai que é a raiz de todo o jogo, mas com o Pedro é diferente, eu aprendi a ter uma visão mais crítica do futebol. Sou um peladeiro apaixonado, mas incapaz de ter uma visão tática do time. Como jornalista esportivo, ele me mostra essa parte, pela qual eu fico muito encantado."
Assim, a tríade familiar que sustenta o amor pelo Flamengo e pela Seleção vai se fortalecendo com o passar dos anos. "O futebol colocou mais luz na minha vida. Meu pai passou pra mim e eu passei pra ele. Nós três sempre tivemos essa convivência com a bola, juntos. É a melhor forma que temos para nos relacionar de forma emotiva, marcas que levo ao longo da minha vida."
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