Bastidores do Mário Helênio: Truculência e uso de spray de pimenta pela PM. Corporação diz que precisa apurar o caso
Dentro de campo, luta, garra e indignação. O Tupi venceu o Fortaleza por 1 a 0, pela volta das quartas de final da Série C do Campeonato Brasileiro. O resultado não foi suficiente para reverter a derrota por 2 a 0 na ida, fazendo com que o time fosse eliminado e o sonho do acesso adiado por um ano. Tudo teria sido diferente caso o trio de arbitragem, capitaneado por Marcelo de Lima Henrique, do Rio de Janeiro, não tivesse cometido erros crassos ao longo da partida, como pênalti não marcado e impedimento inexistente no gol de Ítalo.
Concentrados e centrados na partida, alguns torcedores podem não ter percebido alguns casos que aconteceram nos bastidores da partida. Antes e depois, confusões e uso de violência policial, através do spray de pimenta, foram registrados contra torcedores, dirigentes do Tupi e até mesmo jornalistas.
Foi o primeiro jogo no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio com a impossibilidade de trânsito entre os setores (vermelho e verde). Um torcedor, que preferiu não se identificar, disse que não foram feitas placas de sinalização para avisar o detalhe aos torcedores. Com isso, algumas pessoas, principalmente as que entravam pela catraca de credenciados (que dava entrada ao setor vermelho), queriam ir para o outro lado. Segundo o torcedor, os militares não deixaram fazer a troca, mesmo com o pedido dos presentes. Em alguns casos, chegaram a tratar de forma desrespeitosa os carijós. A confusão não foi pior por causa da presença de orientadores, do clube e da Prefeitura de Juiz de Fora, para poder ajudar no fluxo de pessoas. Depois de muita insistência, a mudança de setor foi permitida.
Pouco tempo depois, chegou o ônibus com a delegação do Fortaleza, escoltada por viaturas da Polícia Militar. Quando estavam passando pelos portões do Estádio, dois torcedores do Tupi chutaram o veículo. Em resposta, um militar, de dentro do carro, fez uso do spray de pimenta. O problema é que não acertou os agressores e sim o Vice-Presidente do Tupi Foot Ball Club, Roberto Boizinho.
“Tinha uma galera em volta do ônibus, como tinha uns torcedores do Tupi, deram um chute no ônibus. O veículo passou e atrás tinha uma viatura. Quando os militares passaram, os agressores não estavam mais lá, já tinham andando para frente. Tinha os dois porteiros e eu, que estava esperando uma pessoa. Neste meio tempo, um militar colocou a mão para fora do carro e espirrou o spray na minha casa. Atingiu eu e os dois porteiros”, relembrou.
Boizinho tentou falar com os responsáveis pelo policiamento, mas não recebeu muita atenção.
“Eu falei com os responsáveis e eles disseram ‘ah, é assim mesmo’, ‘você estava ali na hora’, e não deram muita atenção”, afirmou Boizinho.
Enquanto a partida rolou, as confusões cessaram. Mas, devido aos erros de arbitragem, o pós-jogo foi quente. Ao apito final, jogadores, dirigentes e comissão técnica cercaram o trio formado por Marcelo de Lima Henrique, Michel Correia (que anulou o gol de Ítalo) e Silbert Faria Sisquim. Com a confusão sendo instaurada, o quarto árbitro, Leonardo Garcia Cavaleiro chamou os policiais que estavam próximos aos vestiários, para que entraram em campo e garantissem a saída da arbitragem com segurança.
Como relatado na súmula, quando chegavam ao vestiário direcionado aos profissionais, um grupo pessoas, entre dirigentes, comissão técnica, jogadores e gandulas, foram protestar. Na frente, estavam três repórteres de rádio: Carlos Ferreira (Rádio Catedral), Marco Aurélio (Rádio Globo) e Valtecir Oliveira (Trans FM), relatando a confusão e tentando a fala de um dos árbitros.
No tumulto, uma pessoa atirou um objeto contra os militares que cercavam os profissionais do apito. Neste momento, um policial usou, novamente, o spray de pimenta, que acertou em cheio um dos repórteres.
“Abri o microfone e comecei a ouvir o protesto das pessoas que estavam reclamando. O árbitro (Marcelo de Lima Henrique) encarou uma das pessoas. Nisso, os policiais o empurraram para dentro do vestiário. Acabei de afastando. No que me afastei, uma pessoa do meu lado direito jogou algo na arbitragem. O spray foi direcionado a este cidadão, mas como estava próximo acabou pegando no meu olho direito”, afirmou Carlos Ferreira.
Com mais de 30 anos de rádio, o radialista nunca tinha presenciado esta situação. “A Polícia falhou desde o início. Era normal que ao final do jogo os jogadores do Tupi fossem protestar contra a péssima arbitragem. Quando a confusão estava se instaurado é que foram chamar os policiais, que estavam sentados. Eles não fizeram um trabalho preventivo. Se tivessem se aproximado do trio ao apito final, não teria tido tanta confusão. Mas, mesmo com todos os problemas, não havia a necessidade do uso do spray de pimenta. (O policial) estava despreparado”, relatou Ferreira.
Para o radialista, não se pode esquecer a responsabilidade do árbitro no tumulto. “O Marcelo não entrou direto no vestiário. Como estava cercado de policiais, resolveu parar, com extrema arrogância, e ficar encarando os dirigentes do Tupi”, finalizou.
Em nota, a assessoria de comunicação da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais disse que “não pode emitir juízo de valor, sem antes proceder uma apuração”. Foi reiterado que o espargidor de pimenta é um equipamento de menor potencial ofensivo, usado “para contenção de situações onde o agressor/infrator, ou agente de fatos, como manifestações, possam ser cessados sua animosidade e com isso eles deixem de cometer algo mais grave”.
A assessoria avisou que qualquer cidadão que tenha sido atingido pelo gás de pimenta pode comparecer à Subcorregedoria da 4ª RPM da Polícia Militar, localizada na Rua Tenente Guimarães, no Bairro Nova Era, para formalizar a queixa.
Procurado, os representantes do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Juiz de Fora não responderam até o fechamento desta reportagem.
Em contato com a assessoria de imprensa do Tupi Foot Ball Club, fomos informados que a instituição não vai se pronunciar a respeito da agressão sofrida pela Vice-Presidente Roberto Boizinho.
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