Comerciários reclamam do horário especial de fim de anoHorário especial foi firmado em convenção coletiva. Em 2008, comércio foi responsável por 30% dos acidentes de trabalho

Pablo Cordeiro
*Colaboração
27/11/2009

No final do ano, os horários e dias de funcionamento do comércio sofrem alterações para facilitar as compras de Natal. No entanto, a medida nem sempre agrada a todos. Para os comerciários, os horários alternativos até as 21h30 durante a semana e as escalas aos sábados e aos domingos trazem desconforto e nem sempre garantem aumento nas vendas.

Segundo a vendedora de uma loja de vestuário infantil na rua Santa Rita, no Centro, Maria Silva, os horários de final de ano são bastante cansativos. "O ano passado, o horário era até as 21h e não representou muita diferença nos negócios, já que o movimento na rua morre mais cedo. Inclusive, penso que se o horário fosse normal, venderíamos a mesma coisa."

Para a vendedora de uma loja de variedades, Ana Cláudia Pereira, o horário especial impede que os profissionais do comércio passem mais tempo com a família. "O horário da véspera [20h] do Natal ainda é mais desgastante e não significa que os clientes vão comparecer para comprar." O vendedor de uma loja de calçados, Everson Simões, acrescenta que nos horários alternativos a procura por mercadorias no estabelecimento é pequena. "A partir de certa hora o movimento cai bastante. Ninguém procura calçados às 21h."

Compromisso

De acordo com o superintendente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio), Sérgio Costa, o horário de funcionamento em dezembro foi decidido em  convenção coletiva entre o sindicato patronal e o Sindicato dos Empregados no Comércio. "A extensão da jornada será compensada em datas de trabalho normal, como a segunda e a terça-feira de Carnaval e datas como o Dia do Comerciário, quando apenas o comércio não trabalha", explica. Tradicionalmente, a assembleia para definir os horários e questões salariais é realizada dia primeiro de outubro.

O presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Juiz de Fora, Silas Batista da Silva, destaca que "o acordo de 2009 foi mais benéfico que o dos anos anteriores". "Os horários são definidos por negociação nas assembleias. Fazemos a nossa parte, mas os comerciários também devem realizar a deles, participando das decisões. Se eles derem a opinião no local do trabalho e na hora errada, não vai funcionar. Todos os anos eles sabem que em outubro ocorre a assembleia." 

Para a convocação das reuniões, cerca de seis mil panfletos são distribuídos. "Além da panfletagem, uma equipe preparada atende cerca de mil pessoas por dia no Sindicato. Os panfletos são distribuídos na área central e nos bairros, como Benfica, Manoel Honório, Santa Terezinha e Alto dos Passos. É leviandade de quem não participou da reunião. Não abrimos mão de fazer publicidade."

Sobre as compensações salariais, Batista pontua que o acordo de convenção trabalhista está disponibilizado para qualquer um no Sindicato (avenida Rio Branco, 2067, Centro - galeria Carmelo Sirimarco, 24). Em resposta às indagações de que os horários mais longos não representam, de fato, a garantia de vendas, Batista é enfático. "Em todos os municípios do Brasil, o horário é diferenciado. Isto já existe e sempre existiu. Eles [comerciários] têm esta visão do lado deles, mas as pesquisas mostram outros resultados para o empresário. Como dezembro é um mês atípico e com salários dobrados, é evidente que o consumo aumenta."

Saúde do trabalhador

Segundo a diretora administrativa do Departamento de Saúde do Trabalhador de Juiz de Fora, Ivony Garcia da Silva, os longos turnos de trabalho e as horas adicionais podem originar ou favorecer a evolução de doenças ocupacionais ou de problemas de saúde já existentes.

Ivony afirma que devido às metas diferenciadas, rapidez no atendimento e pressão maior dos patrões, o trabalho excessivo no comércio no final de ano pode causar estresse, depressão, pânico e ansiedade, resultando em doenças psíquicas. "Os profissionais que lidam diretamente com o público e recebem por comissão são os mais vulneráveis. Com o tempo, pode ser provocado um distúrbio de sofrimento. Trabalho ligado ao consumo imediato e em que a pessoa fica muito tempo em pé facilitam o agravamento dos problemas de saúde. É comum ouvir relatos de profissionais relacionando problemas de saúde com os horários de final de ano", salienta.

De acordo com dados do departamento, em 2008, os acidentes de trabalho ligados ao ramo do comércio, varejista e atacadista, representaram quase 30% (169 ocorrências) de todas as notificações, ocupando a primeira posição da lista. Em relação às doenças ocupacionais ligadas ao comércio em geral, a porcentagem denota 8,5% de casos.    

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*Pablo Cordeiro é estudante do 9º período de Comunicação Social da UFJF

Os textos são revisados por Madalena Fernandes


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