Crianças precisam ter a oportunidade de criar as próprias brincadeirasA criança pequena necessita explorar o brinquedo, independente da função que os fabricantes, pais e professores elaboraram para o mesmo
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16/4/2011
A ideia de que brincar durante a infância é importante para o desenvolvimento humano é bem aceita e discutida hoje em dia. O que os pais precisam ter em mente é que as crianças devem ter a oportunidade de criar as próprias brincadeiras. É o que explica a pedagoga Léa Stahlschmidt Silva.
"O primeiro parceiro da criança para brincar é a mãe e, com o reacontecer diário das brincadeiras entre os dois, o bebê vai aprendendo essa linguagem, pela experiência vivida. Aos poucos, o bebê vai se diferenciando da mãe, criando suas próprias brincadeiras, e assim pode passar a ter participação ativa para tomar iniciativas e para começar a viver criativamente e de forma autônoma no mundo. Tudo é criativo, a menos que tenha sido sufocado pelo ambiente."
Para isso, é necessário que a família e a escola criem um ambiente facilitador, que dê espaço para a inventividade. "Um espaço diferente do mundo real, um espaço onde os objetos reais possam ter outra função. Ou seja, em que o bloco de madeira se transforme num avião, onde as pessoas possam assumir novos papéis como, por exemplo, a criança ser o pai na brincadeira e o pai ser a criança. Onde o brincar com os blocos lógicos — jogo normalmente utilizado para a aprendizagem de conceitos de cor, tamanho e forma para as crianças de 4 a 6 anos —, não sofra prematuramente a interferência do adulto, que pode valorizar mais a função pedagógica do brinquedo do que a capacidade inventiva da criança de dar ao mesmo outra função que não seja aquela presente nas instruções dadas pelo fabricante."
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Autonomia deve ser estimulada desde cedo
Léa acredita que a autonomia do brincar deve ser estimulada desde cedo. "Brincando a criança constrói o conhecimento de si mesma e da realidade e vai construindo, paulatinamente, a sua autonomia." Segundo Léa, a liberdade de brincar deve ser permitida já para as crianças menores, de 2 a 3 anos. A razão é que as crianças nessa faixa etária brincam de faz de conta ou jogos simbólicos, como definiu o epistemiólogo suíço, Jean Piaget. "Nesse tipo de brincadeira a criança menor — 2, 3 anos — brinca sozinha e, à medida que cresce, vai incluindo o outro na brincadeira, geralmente a mãe, o pai ou quem cuida dela."
Por volta dos 6 ou 7 anos, as brincadeiras de faz-de-conta começam a se modificar e as crianças passam a dar preferência aos jogos estruturados, como o lince, o jogo da memória e quebra-cabeças, por exemplo. "Elas preferem as representações de algum tema para um determinado público, como brincar de teatro, a brincadeiras que envolvem personagens de TV, e requisitam mais a companhia de outras crianças."
Brincar afasta o medo da solidão
Baseada no legado do médico e psicanalista inglês Donald W. Winnicott sobre o brincar e a realidade, Léa afirma que uma das razões que leva a criança a brincar é a necessidade de trabalhar o seu medo da solidão. "Sem desconsiderar o prazer como motivo da brincadeira infantil, é a necessidade da criança de elaborar o medo da solidão, o medo de perder os seus objetos de amor quando eles se afastam, que leva a criança a brincar."
Os textos são revisados por Thaísa Hosken
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