Quando amar demais faz sofrer
Juiz de Fora d? os primeiros passos para a cria??o de uma filial
do grupo Mulheres que Amam Demais An?nimas - Mada

T?mara Lis
28/05/03

Chego ? reuni?o um pouco atrasada. As quatro mulheres est?o sentadas em c?rculo em uma sala pequena. Elas t?m entre 30 e 50 anos, s?o bonitas e me recebem com grande amabilidade.

? poss?vel notar as diferen?as entre elas, a mais jovem, fico sabendo depois, trabalha no setor financeiro, a outra ? visivelmente uma pessoa de classe social mais privilegiada, deve ter quase cinq?enta anos, mas o visual bem tratado e jovial faz com que aparente muito menos. As outras duas devem ser donas de casa, mas tamb?m s?o muito diferentes. Apesar disso, uma coisa elas t?m em comum: s?o mulheres que amam demais .

Uma vez por semana, elas se re?nem para falar de suas experi?ncias, (dar seus depoimentos, na linguagem do grupo) sobre a "depend?ncia de pessoas". S?o mulheres que sofrem com o amor excessivo em rela??o a maridos, noivos, namorados, filhos, amigos...

As reuni?es s?o o primeiro passo para criar, em Juiz de Fora, uma filial do grupo Mada- mulheres que amam demais an?nimas e, ent?o, ajudar outras pessoas que, assim como elas sofrem por amor. O grupo foi criado h? 20 anos nos Estados Unidos e segue a linha dos Alc?olicos An?nimos, baseando-se, principalmente, no anonimato das participantes e em reuni?es onde o depoimento de cada uma ? a base para a melhora individual.

De que o amor em excesso ? capaz
Salete, assim como suas colegas, tem muitas hist?rias de sofrimento por amor para contar. Ela diz em seu depoimento que j? sofreu demais por amar as pessoas erradas. Sua escolha foi sempre por quem tinha problemas com mentiras e bebidas e ela era a quem mais sofria com tudo isso.

Salete conta que j? sofreu demais calada e que chegou ao ponto de perceber que n?o conseguiria mudar sua vida, inclusive a rela??o de m?e super protetora, se n?o estivesse fazendo parte do grupo. Apesar de sempre demonstrar ser uma mulher equilibrada e tranq?ila, ela admite que percebeu que tinha chegado ao limite quando agrediu fisicamente seu ex-namorado. Mas agora, diz ela, as coisas est?o mudando e ela aprendeu que mais importante que amar ao outro e amar a si pr?pria.

Hist?ria parecida com a de B?rbara que sofre com o ci?me exagerado que tem do marido. Ela conta que j? chegou a perder a cabe?a por causa deste amor desmedido, mas hoje j? se controla melhor e diz que at? mesmo o marido j? percebeu as mudan?as, "n?o me arrumo mais para meu marido, agora me arrumo, para mim, quero ficar bonita para mim, porque sei que eu sou a pessoa mais importante", diz.

Motiva??o para continuar
Cec?lia, m?e de fam?lia, compartilha com o grupo suas vit?rias. Os filhos a incentivam no processo de melhora e lhe dedicam palavras de incentivo para que ela consiga se livrar do sofrimento.

Ningu?m ? obrigada a se manifestar durante as reuni?es. E as duas mulheres que chegaram depois de mim preferem ficar caladas, apenas ouvindo os depoimentos. S?o mulheres bonitas, bem arrumadas e que n?o se parecem em nada, assim como as outras do grupo, com o estere?tipo de mulheres que sofrem com relacionamentos.

N?o s?o descontroladas, n?o choram, esperam pacientemente sua vez de falar e se parecem em muito com grande parte de nossas amigas, primas, irm?s e conhecidas que se re?nem para conversar sobre seus problemas de relacionamento. As mulheres ouvem com calma os depoimentos, e n?o h? interrup?es. Ningu?m d? conselhos ou cr?tica. O objetivo ? se reconhecer no problema do outro e, quem sabe com isto, resolver suas pr?prias defici?ncias.

A reuni?o termina e as mulheres v?o saindo uma a uma. A despedida ? afetuosa e elas prometem voltar na pr?xima reuni?o. Saem, aparentemente, mais felizes do que chegaram.

Problema antigo
De acordo com a neurologista Sandra Fortuna, mesmo com o interesse maior sobre o tema estar acontecendo atualmente pelo enfoque abordado na novela Mulheres apaixonadas, atrav?s da personagem Helo?sa (vivida por Giulia Gam) podemos encontrar relatos de n?o somente mulheres, mas tamb?m de homens que amam exageradamente h? muito tempo.

Ela acrescenta que "podemos entender que as pessoas que amam demais, na verdade, apresentam uma depend?ncia emocional que pode trazer todas as repercuss?es danosas ao homem, tanto quanto qualquer depend?ncia qu?mica. Repercuss?es estas que podem ocasionar altera?es psicossom?ticas levando a pessoa adoecer e, portanto, causando sofrimento".

A neurologista acrescenta que a depend?ncia gera um medo intenso de vivenciar ou at? mesmo de vislumbrar a possibilidade de perda do ente amado.

Clique aqui para ler o artigo da psicanalista V?nia Fortuna

Sabendo a hora de procurar ajuda!
  • Torno-me obsessiva com os relacionamentos?
  • Nego o alcance do problema?
  • Minto para disfar?ar o que ocorre numa rela??o?
  • Evito as pessoas para ocultar os problemas?
  • Repito atitudes para controlar a rela??o?
  • Sofro acidentes devido ? distra??o?
  • Sofro mudan?as de humor inexplic?veis?
  • Pr?tico atos irracionais?
  • Tenho ataque de ira, depress?o, culpa ou ressentimento?
  • Tenho ataques de viol?ncia?
  • Sinto ?dio de mim mesma e me auto-justifico?

    Se voc? respondeu afirmativamente a tr?s das doze perguntas, ? uma mulher dependente de pessoas. Est? na hora de procurar ajuda!



  • * Todas as fotos, com exce??o da foto da m?dica neurologista Sandra Fortuna, s?o ilustrativas e os nomes foram trocados para preservar o anonimato das mulheres.


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