Opressão contra as mulheres ainda é uma realidade Em pleno século XXI, as mulheres ainda sofrem com desigualdade e desrespeito

Marinella Souza
*Colaboração
03/10/2008

Ser bem sucedida no trabalho, ser boa mãe, boa esposa, arrumar a casa e ainda estar sempre linda, jovem com tudo em cima e o cabelo impecável como nos comerciais de TV. Essas são algumas das exigências feitas à mulher moderna, que configura a opressão em relação ao chamado "sexo frágil" no novo milênio.

Apesar de todas as conquistas obtidas, a mulher ainda é vítima de preconceito, desrespeito e desigualdade dentro da sociedade contemporânea. Para o cientista político Diogo Tourino (foto abaixo), falar em opressão no século XXI é um rótulo abrangente porque ainda existem diferentes formas de tratar a mulher no Brasil.

"Fazendo um corte certamente reducionista, mas que serve para entender, olha como as mulheres são tratadas nos extratos de rendas mais altas e nos extratos de rendas mais baixas. Por mais que a mulher tenha conseguido, cada vez mais, alcançar um status de igualdade em alguns postos de trabalho e no jurídico, ainda existem modos muito desiguais de tratar a mulher nas diferentes regiões do país", avalia.

A jornalista Cláudia Lahni também avalia criticamente a situação da mulher nos dias de hoje. Ela reconhece que inúmeros avanços foram obtidos, mas a opressão ainda é forte. "Basta observar os dados estatísticos: a cada 15 segundos uma mulher apanha no país, além disso, sofrem violência simbólica como salários menores e dupla jornada de trabalho", revela.

Definição de papéis

Com todo o espaço conquistado pelas mulheres ao longo dos anos, ainda resistem, na sociedade, algumas marcas do tradicionalismo que definem os papéis de uma maneira muito hierárquica: homem coloca o dinheiro em casa e a mulher cuida da casa e dos filhos.

Foto de Diogo Tourino Pode parecer estranho, mas essa ainda é a dinâmica de muitos lares brasileiros e Tourino analisa essa situação. "As questões relacionadas à casa, ou seja, à reprodução da vida em sociedade ainda estão muito concentradas nas mulheres, aspectos domésticos ainda estão sob os cuidados delas", diz Cláudia.

Tourino analisa a manutenção desse padrão. "É claro que existem alguns determinantes biológicos que sugerem que a mulher é a mãe, é quem a gesta as crianças e quem, em boa parte do tempo, está mais próximas a elas, mas a gente imaginar que tarefas mínimas como quem vai cuidar das crianças e quem vai colocar o sustento para a família ainda é uma questão circunscrita a um papel vinculado ao sexo é colocar em questão se a mulher, de fato, conseguiu a sua emancipação nos anos 60".

Cláudia (foto abaixo) alerta ainda para o panorama da mulher na vida política do país. "Ainda é uma parcela pequena das mulheres que assumem cargos públicos", diz. Tourino acredita que o papel da mulher na sociedade vai além da representação política. Para ele, a postura que a mulher tem assumido contribui para que as pessoas lidem melhor com a questão das diferenças, das desigualdades.

Movimento feminista

Tourino acredita que a situação da mulher, atualmente, está bem melhor do que há 40 anos, mas faz ponderações. "Sem dúvida nenhuma sucessos foram conquistados. A mulher, hoje, tem uma situação muito melhor do que tinha antes, que vai desde o rompimento de antigos laços tradicionais até mudanças jurídicas. Mas eu não sei se o movimento feminista, da forma como é colocado, caminhe em trilhos corretos".

Para o cientista social, colocar a pílula anticoncepcional como marco das conquistas femininas é ignorar que a mulher ainda convive com preconceitos ligados ao corpo e ao sexo. "Acho que algumas bandeiras do movimento feminista precisam ser revistas. A luta por igualdade, talvez não seja, necessariamente, a luta correta. Acho que nós podemos fazer coisas diferentes e ter o mesmo reconhecimento" .

Foto de Cláudia Lahni Para Cláudia, existem duas saídas para essa situação de desigualdade entre homens e mulheres. Uma coletiva, que inclui as mulheres participarem de organizações de mulheres, feministas ou não, e, a partir dessas entidades, discutir essa situação e reivindicar mudanças no local de trabalho, no bairro, e, principalmente do poder público.

A outra questão é relativa a uma postura pessoal. "A mulher tem que assumir a decisão pela igualdade. E nesse ponto, é muito importante a participação não só das mulheres, mas também dos homens, no sentido de a gente ter uma sociedade mais justa, mais igualitária. Que cada um e cada uma assuma essa decisão de participar de uma sociedade igualitária sem preconceito de nenhuma ordem. Isso significa uma ação e uma decisão pessoal no sentido do não-preconceito, da não-injustiça, enfim, da igualdade", acredita.

Movimento Feminista em Juiz de Fora

Segundo Cláudia, Juiz de Fora tem diversos grupos que discutem e trabalham a situação da mulher na sociedade. Alguns têm uma postura feminista, "entendendo o feminismo como uma teoria social e uma ação pela mudança na sociedade". Outros trabalham pelas mulheres buscando outro tipo de atuação, dentre esses, ela destaca o coletivo feminista Maria Maria, mulheres em movimento, que é um núcleo da Marcha Mundial das Mulheres (leia a matéria sobre o Movimento Maria Maria).

"A Marcha Mundial das Mulheres é uma ação internacional do movimento feminista contra a desigualdade e em favor da emancipação das mulheres" . Esse movimento existe desde o fim da década de 1990 e vem ampliando as discussões em relação à mudança social e levando as reivindicações das mulheres em âmbitos diversos, inclusive à ONU.

 

Ela cita ainda grupos de mulheres negras e de trabalhadoras de setores específicos nos bairros. "A gente tem, em Juiz de Fora, uma ação bastante significativa das mulheres, no que diz respeito a essa organização e luta pela emancipação feminina e luta pela igualdade social".

*Marinella Souza é estudante de Comunicação Social na UFJF


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