Raquel Marcato Raquel Marcato 26/11/2015

Uma pergunta para o meu professor

escolaUma sala de aula com 21 alunos, entre cinco e seis anos, ou seja, com 21 inquietudes que se aproximam e que se repelem como reter a atenção de todos dentro de uma mesma atividade dirigida?

Tudo bem que há argumentos que se defendem: mas, as crianças precisam de limites, precisam compreender que não podem fazer só o que querem ou, até mesmo, elas estão na escola para aprender (ou seja, sentadas, memorizando e reproduzindo) e não por outra coisa.

E, muitas vezes, embarcamos nestes argumentos totalmente simplistas por isso equivocados.
Não somos simplistas.

Se pararmos ao menos para observar as 21 crianças (ou a quantidade que for) chegaríamos a perceber que elas não se movem de maneira igual, não choram de maneira igual, não comem de maneira igual, cada uma tem seu particular tempo, um gosto, uma história, uns pais diferentes.

Mas, tudo isso  desorganiza o “esquema” do coletivo e é melhor desconsiderar que acolher.

É uma professora só, ali não há milagre.

Há um cronograma de ensino que precisam dar conta.

Entretanto, ainda que exista uma considerável flexibilidade, uma liberdade nas atividades e nas propostas educativas, ainda que sejam crianças ali dentro, cadê a disponibilidade e a curiosidade dentro do programa educativo para “tocar” de verdade em cada filho divino que por ali passa?

Consideram dentro das propostas educacionais que somos também alguma coisa de “alma”, de “espírito”, de “ fadas e anjos”?

Tudo isso somos nós. Pais, professores, ajudantes, alunos.

Somos mistério.

Para que um aluno possa aprender com prazer, a escola precisa, principalmente, aprender sobre a sua parte “invisível”, é ela quem lhe dá toda a sua diferença.

Precisa “tocar” nela, isso precisa.

As crianças não precisam de hora e lugar determinado para aprender porque elas aprendem a cada minuto mesmo estando sozinhas. Elas são sutis, discretas, pacientes,  somos nós quem precisamos ver as letras e os números para nos convencermos de que estão aprendendo. 

Acredito que as escolas  estão precisando “aprender” uma outra classe de conteúdo dentro de cada docente. Os professores para educar precisam retroagir, peregrinar dentro de si, e entrar em contato com a sua criança interna e se perguntar com a máxima verdade:

-A minha criança interna se sente acolhida, respeitada, escutada dentro desta proposta educativa?

Tudo começa e termina dentro de nós.

Aqui dentro temos a resposta e todo o material que nos pode convencer.

Primeiro a verdade interna, depois buscamos culpar o “sistema” que por ironia é composto por todos nós!
Com afeto,
Até a próxima.


Raquel Marcato, mãe da Marta de 5 anos, blogueira do portal mamaesavessas.com, escritora, questionadora por essência, ativista pelo autoconhecimento e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Autônoma de Barcelona.

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