Meu coração não quer viver batendo devagar
Meu coração não quer saber de viver batendo devagar. Meu corpo não quer viver em estado de letargia e não suporta o abandono e a secura dos dias que vão passando, áridos e sem vida na distância de um ser amado ou no mínimo compatível com a necessidade humana de compartilhar.
O preço é alto, o tombo é maior ainda, mas eu arriscaria o meu sorriso eterno por gargalhadas descontroladas, por um estado de euforia, por saltos no meu peito e apertos no meu ventre que me fizessem sentir a vida em seu em seu ápice e êxtase, em seus altos e baixos e em profundos apertos e largas expansões do meu plexo solar.
Custaria talvez dias longos de tristeza, de saudade ou de profunda decepção, mas eu ultrapassaria estes dias com gotas de lembrança da loucura que me permiti em nome da mais alta emoção, em nome do meu direito de nutrir minha alma de um colorido fluorescente que só o amor dos loucos pode fazer acontecer.
Passaria o resto dos meus dias entre bandagens. Curaria cada ferida com o elixir dos meus sentidos ainda latentes. Irradiaria do meu ventre toda a energia necessária para um renascimento após ter morrido de tanto amar, contudo não abriria mão de uma tórrida história de amor.
Levantaria voo como uma Fênix renascida das cinzas, mas não me apagaria e jamais prometeria à vida e nem tão pouco a Deus, não cometer outra vez tamanha insanidade. Cometeria sim, quantas vezes fosse necessário, para me sentir viva e membro efetivo de uma colônia divina aqui na terra onde foi determinado que fôssemos felizes em par.
Jamais bradaria ao vento ou a qualquer comunidade deste mundo que sou feliz sozinha e que posso sublimar a qualquer tempo esta necessidade premente de amar. Nenhuma dor de amor poderia apagar este calor que trago no corpo e na alma e fazer de mim um galho seco de árvore pendurado em tronco disfarçado em fortaleza. Nenhuma desilusão, posterior à ilusão que escolhi para viver feliz por alguns dias fará de mim um galho seco de árvore fraco e passível de rancor ou de motivos que me impeçam ressurgir.
Não, nunca me declararei feliz completamente, se de tempos em tempos não puder sentir meu coração arrebentando no peito em consonância com o pulsar das minhas veias diante de todo prazer que me foi permitido sentir quando desci para a terra em um corpo de mulher saudável pela dádiva divina. Jamais negarei minha existência e toda a felicidade que prometi sentir diante de toda benção que recebi ao vir, munida de Inteligência, sentimentos e sentidos.
Serei grata, eternamente grata a cada momento de alegria que me for concebido. A cada um que fizer parte do meu caminho, a cada experiência doce ou dolorosa, a tudo e a todos que me possibilitarem ter a nítida certeza do sentido da minha vida.
Está louca esta mulher? A vida não é somente feita de amor... Não, não é mesmo, tem todo o resto. Mas o resto eu uso para passar os dias até que eu possa amar novamente.
Jussara Hadadd é filósofa e terapeuta sexual feminina
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