Artigo
O câmbio e suas conseqüências


 

:::15/06/2007

 

 

Uma nota de um real Qual o piso da taxa de câmbio? Essa é uma questão que ninguém ousa arriscar responder. Às vésperas das eleições de 2002, US$ 1 chegou a custar R$ 3,99. Nem os analistas de comércio exterior mais experientes acreditavam que compraríamos US$ 1 por menos de R$ 2 atualmente. Com isso, a sociedade vive um dilema entre os prós e contras dessa taxa de câmbio apreciada. A pergunta agora é qual o saldo líquido para a economia brasileira?

Inicialmente vale frisar que matematicamente, apreciação e sobrevalorização cambial têm os mesmos resultados, ou seja, a nossa moeda fica "forte" e com isso conseguimos comprar mais moedas estrangeiras. Hoje gastamos menos de R$ 2 para comprar US$ 1. Como foi mencionado no início do artigo, gastávamos R$ 3,99 para comprar US$ 1 na segunda metade de 2002. O que difere apreciação de sobrevalorização é que a primeira é fruto de uma ação do mercado (Lei da Oferta e da Procura), enquanto a segunda ocorre por uma intervenção governamental (comprando ou vendendo dólares).

Atualmente, com sucessivos superávits comerciais (exportações superiores às importações) aliados às elevadas taxas de juros reais, o ingresso de dólares no Brasil tem se ampliado. Com isso, a velha e conhecida Lei da Oferta e da Procura atua: excesso de oferta de dólares faz o preço do mesmo cair. Sendo assim, temos uma apreciação cambial nos dias de hoje, que só não é mais elevada devido às compras de dólares que o Banco Central tem feito para que a cotação do mesmo não caia mais ainda. Só que o mercado tem sido mais forte.

Com câmbio apreciado fica mais barato importar, bem como viajar ao exterior. Com os produtos importados mais baratos, a concorrência com os produtos nacionais aumenta e ajuda no controle da inflação. Isso é chamado de Âncora Cambial. O governo Lula, bem como ocorreu no primeiro mandato de FHC (1995/1998), tem tido a contribuição da taxa de câmbio para manter a inflação sob controle. Mas vale ressaltar que, apesar de não termos uma inflação galopante como aquela observada até meados de 1994 (antes da implementação do Plano Real), os preços da energia elétrica, dos telefones, dos remédios, das passagens de ônibus, entre outros itens essenciais têm subido muito ultimamente.

Três notas de um dólar Por outro lado, a taxa de câmbio apreciada prejudica as exportações, pois nossos produtos perdem competitividade nas transações internacionais. Quando US$ 1 custava R$ 3, um americano, por exemplo, gastava US$ 10 para comprar um produto brasileiro que custava R$ 30. Como o US$ 1 a R$ 2, o mesmo americano precisará desembolsar US$ 15 para comprar esse mesmo produto que custa R$ 30. Esse simples exemplo ilustra que nossos produtos ficam mais caros lá no exterior. Caso o câmbio continue apreciado, a tendência é que as exportações caiam e as importações aumentem cada vez mais, que faz com que os saldos positivos da Balança Comercial diminuam e possam até se tornar negativos.

Em suma, para o consumidor, a situação de curto prazo é favorável, pois com o controle da inflação auxiliado pelo câmbio apreciado, seu poder de compra aumenta. Entretanto, para a indústria nacional, a situação é crítica, pois as mesmas encontram dificuldades para exportar, bem como têm sua concorrência ampliada pelo maciço ingresso de produtos importados. E se essas empresas entram em dificuldades de operar, as mesmas podem desempregar e até falir.

Logo, é interessante que o governo usufrua do câmbio baixo para controlar a inflação, mas que também auxilie as empresas através de créditos acessíveis para que as mesmas possam importar máquinas e equipamentos e modernizarem seu parque tecnológico e tenham condições de competir com os importados.


Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela UFAL (Universidade Federal de Alagoas), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Vianna Júnior, Estácio de Sá e Universo e do curso de Formação Gerencial do Instituto Educacional Machado Sobrinho, sendo todas a instituições em Juiz de Fora - MG.

Sobre quais temas (da área de economia) você quer ler novos artigos nesta seção? O economista Fernando Agra aguarda suas sugestões no e-mail negocios_economia@acessa.com.




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