Armadilhas financeiras
Prezado leitor, você já se deparou com uma situação assim: entra em uma agência bancária e parece que está em uma igreja fanática? O que você faz? Deixa-se seduzir pelas propostas de salvações financeiras que prometem uma solução celestial para seus problemas financeiros ou não se deixa enganar por essas armadilhas que algum dia poderão te levar ao "vale da sombra da morte, onde haverá choro e ranger de dentes"?
Caro leitor, um dia o Avatar (aquele amigo nosso que apareceu desde o primeiro artigo no qual critiquei a ampliação da Área Azul em Juiz de Fora, publicado em fevereiro de 2012), cansado de morar em seu planeta natal, entrou numa agência bancária para solicitar um financiamento para a compra da casa própria aqui na Terra. A primeira coisa que ouviu foi que tinha que abrir uma conta corrente naquela agência e pagar uma mensalidade de R$ 12 para a manutenção da conta. MENTIRA! Eu tenho um financiamento na Caixa Econômica e não abri a conta. Recebo o boleto de pagamento em casa ou pego diretamente na internet no próprio site do banco. Um financiamento de 30 anos renderia ao banco (a preços de hoje, 360 meses vezes R$ 12) R$ 4.320 só de tarifa (quantas prestações poderiam ser pagas com esse dinheiro?). Você já percebeu que gerente de banco serve ao interesse do próprio banco e não ao do cliente?
SUGESTÃO: Se o gerente condicionar o financiamento à abertura da supracitada conta (o que não deveria) solicite uma CONTA DE SERVIÇOS ESSENCIAIS, que é gratuita e o banco tem a obrigação de abrir desde 2008, regulamentada pelo Banco Central, conforme Resolução nº 3.518/07, e nas Cartas Circulares nº 3.371/07 e nº 3.349/08. Com relação à conta que te cobra, exorcize-a e encaminhe-a ao mármore do inferno (junto com o próprio gerente!).
O mesmo gerente disse ao Avatar:
- Você, meu irmão, que não consegue poupar, não consegue juntar dinheiro, pois o inimigo te perturba para consumir os prazeres do pecado, agora você encontrou a salvação (Aleluia! Glória a Deus!). Em nome do sistema bancário, eu te ofereço um Título de Capitalização da nossa agência, é o ENGANACAP ou o SALVAÇÃOCAP. Suponha que você tenha um salário de R$ 1.000, no qual você, que antes gastava com bebidas, cigarros, farras, prostituição, metade do que ganha (R$ 500), agora, com apenas 10% do seu salário mensal (R$ 100) você vai fazer uma poupança forçada dizimamente, concorrer a prêmios e, se ficar até o final dos tempos (aliás, do plano), você resgatará todo o dinheiro com os juros (se tirar antes, vai perder uma parte do que poupou). Já pensou como isso bom? Agora vão sobrar R$ 900 do seu salário. Viu como é um bom negócio (sobretudo para o banco, pensou o gerente).
MENTIRA: Títulos de capitalização são bons apenas para os bancos. É mais fácil ganhar na Mega Sena do que ser sorteado em um título de capitalização, que a meu ver deveria se chamar TÍTULO DE DESCAPITALIZAÇÃO. Veja algumas observações que obtive no Blog do Jean: "Os títulos de capitalização são corrigidos pela TR, que é uma taxa menor que a poupança, além disso, os bancos cobram taxa de administração, ou seja, a possibilidade de você receber menos do que poupou são imensas em mais de 95%; outro fator que faz com que tais títulos não compensem é a rentabilidade, já que são corrigidos pela TR, taxa essa que rendeu apenas 0,68% ao ano. Isso mesmo, ao ano. Suponhamos que alguém comprou um título de capitalização em 2010 por R$ 700; ao final de um ano, simplesmente recebeu apenas R$ 4,76 de juros. Se a mesma pessoa tivesse colocado esse dinheiro na poupança, receberia R$ 47,60 e sem o pagamento de taxa alguma. Caso a pessoa optasse por algum CDB, os rendimentos poderiam ser, no mínimo, de R$ 70. Ou seja, se tem algum tipo de investimento que não compensa é o título de capitalização, que somente é vantajoso para o banco. Além disso, caso você retire seu título de capitalização antes do prazo combinado, os bancos cobram uma multa, normalmente de 10%, ou seja, quem investiu os mesmos R$ 700 e precisou desse dinheiro para uma emergência sairá com apenas R$ 630. Já a poupança não sofre esse tipo de multa, assim como outras modalidades de aplicações financeiras em que as multas são inclusive menores ou sem multa alguma".
Como o Avatar já era esperto, recusou o referido título. O "guia espiritual", aliás, o gerente o banco (nesse artigo, parece-me que "guia espiritual" e gerente de banco são sinônimos?) ofereceu uma Previdência Privada e disse ao Avatar:
- Irmão Avatar! Aleluia! Amém! Glória a Deus! A Previdência Social está falida e você deve fazer uma Previdência Privada que garanta uma salvação para sua aposentadoria, que lhe propicie uma vida eternamente feliz, como se você estivesse em um lugar com um rio onde corre leite e mel.
O Avatar disse: - MENTIRA: Sai capeta! Sai Previdência Privada! Isso não me pertence! Isso é do mal e só beneficia os bancos e ajuda aos gerentes a baterem suas metas mensais! Estive na corretora de valores mobiliários dos meus amigos Alan Estiguer e Cheng Amaro e eles me explicaram que nem deveria chamar previdência, pois não é "blindada" como a Previdência Social é (isso quer dizer que em um processo judicial, em um divórcio etc., o indivíduo pode perder o que acumulou para pagar o que a justiça determinar; isso não acontece na Previdência Social). Cobra taxas de administração, de carregamento e de saída caríssimas e é composta, basicamente, de Títulos da Dívida Pública. Vale ressaltar que qualquer indivíduo com apenas R$ 150 pode comprar esses mesmos títulos diretamente do Governo Federal pelo site do Tesouro Direto, da sua própria casa, com taxas de administração bem menores que os bancos cobram.
O gerente ainda insistiu com o Avatar:
- Temos o melhor cartão de crédito do mundo, que não cobra taxa de anuidade (apenas 15,99% de juros ao mês se você não pagar a fatura completa até o dia do vencimento), é o EXPLORACARD, temos nas bandeiras VIVA LISO, AMERICAN ENGANESS e MASTER CACA.
Depois de tanta tentação e enganação que o gerente tentou fazer com o nosso amigo Avatar, o mesmo teve uma crise convulsiva e o gerente pensou que ele estava possuído por alguma entidade do mal. Chamou os demais funcionários da igreja, aliás, do banco (não sei por que razão confundo banco com igreja, será que é algum déficit de atenção espiritual?) para entoar um exorcismo financeiro e bateram no Avatar para expulsar o inimigo que o possuía. No final da história, o Avatar foi prestar queixa em uma delegacia, devido à surra que levou. Lá, ele encontrou o "gato bandido" de Arapiraca (interior de Alagoas), que foi pego tentando entrar no presídio com baterias, chips para celular e serras. O gato solicitava reparação por danos morais contra a imprensa que o apelidou de "gato bandido". O bichano era inocente e temia ser morto (como queima de arquivo, pois sabia demais) por quem o havia treinado.
Prezados irmãos, aliás, leitores, muito cuidado com essas armadilhas do sistema financeiro. Leiam, busquem informações sobre os seus direitos e jamais se deixem enganar por promessas de salvação financeira. Aleluia!
Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Universo, Estácio de Sá, Vianna Júnior e da Fundação Educacional Machado Sobrinho, todas as instituições em Juiz de Fora - MG. O autor ministra palestras, para empresas, na área de Educação Financeira, Gestão de pessoas, Relacionamento Interpessoal e Marketing Pessoal. Saiba mais cliente aqui
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