Pegada hídrica: vamos economizar água indiretamente também!
Fernando Agra e Thamiris Duque Paiva**
Nos últimos meses temos enfrentado uma questão preocupante com relação aos recursos hídricos. Apesar de o Brasil ser considerado um país que possui as maiores reservas de água do mundo, é evidente que há uma má distribuição do abastecimento hídrico. O nosso País apresenta uma escassez devido ao mau uso e a má distribuição (água concentrada em algumas regiões). Vocês já pararam para pensar o quanto de água é gasto para produzir os nossos alimentos? Quanto é gasto de água para produzir 1 quilo de carne? Nós não gastamos água somente no banho e no consumo direto diário, e apesar de termos que economizar neles também, esse gasto é apenas uma parte do nosso uso.
Além do nosso uso direto da água, o maior e menos divulgado é o consumo indireto. Uma grande parte do consumo da água, em uma escala global, ocorre na produção agrícola. E mesmo sendo essencial para a nossa alimentação, temos diversas alternativas para fazermos a nossa parte em um consumo consciente. Os produtos de origem animal costumam ter uma pegada hídrica (um indicador do uso da água que considera não apenas o seu uso direto por um consumidor ou produtor, mas, também, seu uso indireto, ou seja, desde a plantação e/ou nascimento do animal até o produto chegar à mesa do consumidor) maior do que os vegetais, porque para manter um animal é preciso também produtos de origem vegetal. Isso é provado até em questão de caloria ou proteína, onde a pegada hídrica média por caloria de carne de bovinos é vinte vezes maior do que para os vegetais. Isso mostra que precisamos consumir vinte vezes mais água para digerir a carne do que o vegetal (Pegada Hídrica, 2015, disponível em www.pegadahidrica.org).
Geralmente uma carne produzida em sistemas industriais (gado confinado) tem uma pegada hídrica total menor que a carne de sistemas de pastagem, porém, devido a uma maior fração de concentrados na alimentação dos bovinos em sistemas industriais e ao fato de que é concentrada uma maior pegada de água do que em outros alimentos, a carne industrial tem maiores pegadas de "água azul" (águas superficiais e subterrâneas consumidas durante o processo de produção) e de "água cinza" (água doce necessária para misturar e diluir os poluentes e manter a qualidade da água), do que carnes de sistemas de pastagem. Os maiores problemas com relação à água são referentes à água azul – assim, podemos concluir que os sistemas de pastejo são preferíveis a partir de um ponto de vista dos recursos hídricos. Como é visto no Quadro 1 e no Gráfico 1, a pegada hídrica de bovinos de corte é muito maior do que as pegadas de carne de ovinos, suínos, de cabra e de frango.
PRODUTO | LITROS DE ÁGUA |
---|---|
1Kg de Café | 18.900 |
1Kg de Milho | 1.222 |
1Kg de Soja | 2.145 |
1Kg de Chocolate | 17.000 |
1L de Biodiesel | 11.400 |
1Kg de Pepino | 350 |
1Kg de Ovo | 200 |
1Kg de Alface | 240 |
1Kg de Leite | 1.020 |
1Kg de Leite em Pó | 4.750 |
725g de Pizza | 1.260 |
1Kg de Cana de Açúcar | 210 |
1Kg de Beterraba Sacarina | 132 |
1Kg de Carne Bovina | 15.400 |
1Kg de Carne Suína | 6.000 |
1Kg de Carne de Frango | 4.300 |
1Kg de Carne de Cabra | 5.500 |
Fonte: Elaborada a partir de www.pegadahidrica.org. Acesso em 05 abr. 2015.
Gráfico 1: Pegada hídrica média na produção de bovinos, suínos, frangos e caprinos
Fonte: Elaborado a partir de www.pegadahidrica.org. Acesso em 05 abr. 2015.
Devemos repensar os nossos atos também em relação ao consumo indireto de água (pegada hídrica). Será mesmo que só devemos economizar nos banhos e nos usos domésticos como dizem as propagandas de conscientização (ensaboar a louça, escovar dentes e fazer a barba com a torneira fechada e somente ligar a mesma para o enxague; eliminar todo desperdício etc.)? Ou será que o nosso maior "vilão" está no consumo desenfreado nas produções agrícola e pecuária? Sendo assim, é importante economizar água de modo direto, bem como de modo indireto, repensando nossos hábitos de consumo. Faça a sua parte!
** Thamiris Duque Paiva é Técnica em Meio Ambiente (Instituto Federal do Sul de Minas – Campus Muzambinho – MG), estudante do 5o período de Economia da UFJF e bolsista da Pré-incubação do CRITT/UFJF.
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Fernando Antônio Agra Santos é palestrante na área de Inteligência Financeira, Gestão de Pessoas, Relacionamento Interpessoal, Marketing Pessoal e Gestão do Tempo. É Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Professor da Universidade Salgado de Oliveira (Universo) e professor licenciado da Fundação Educacional Machado Sobrinho, todas as instituições em Juiz de Fora - MG. Também é economista do Centro Regional de Inovação de Transferência e Tecnologia (Critt) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). É autor do livro "Crédito Rural e Produtividade na Economia Alagoana" pela EDUFAL. É colunista do Portal ACESSA.com e foi coautor de artigos na Folha de São Paulo on line (com o colunista Samy Dana, Professor da FGV - SP), de agosto/2013 até janeiro/2015.Saiba mais clicando aqui.
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