Perda da tradição do jejum diminui vendas de bacalhau, dizem lojistas
O quilo do bacalhau do Porto varia entre R$ 34,90 e R$ 43,99 em Juiz de Fora
Repórter
24/03/2014
Ingrediente importante dentro da tradição pascal, o bacalhau tem perdido espaço na mesa neste período, segundo os comerciantes das lojas especializadas de Juiz de Fora. Com a redução da prática do jejum, a opção por ingerir carne vermelha na Semana Santa tem feito com que as pessoas deixem de comprar o produto, especialmente nesta época, e consumi-lo mais vezes ao ano.
"Temos vendido bacalhau na promoção. É isso que tem garantido as vendas, que só tem piorado ano a ano. As pessoas têm deixado de fazer o jejum de carne e consumir o bacalhau na Sexta-feira Santa ou mesmo no Domingo de Páscoa, como uma refeição diferenciada. A tradição vem sendo extinguida, as pessoas têm mudado a forma de comportamento", constata a proprietária de uma loja de especiarias na rua Mister Moore, Bernadete Ferreira Oliveira.
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A proprietária de um mercado na mesma rua, Lígia Martins Ferreira, concorda que os hábitos tradicionais vêm se perdendo. "O povo não espera mais a Semana Santa para comer o bacalhau. Muitos ainda deixam para comprar na Páscoa, mas é um produto que tem boas vendas durante o ano todo. O consumo não é mais datado. Eu trabalho com bacalhau dessalgado o ano inteiro e em qualquer feriado o pessoal já aproveita para fazer um prato com o ingrediente", diz.
"Nós já tivemos um aumento em torno de 20%, em relação ao período normal, e na Semana Santa deve subir um pouco mais, mas acho que não vai ser igual aos dos anos anteriores. O preço baixou, mas acho que as vendas não vão tão longe", analisa o lojista Marcos Vinícius de Oliveira, dono de uma loja de queijos na rua Batista de Oliveira.
Nas lojas do Centro de Juiz de Fora, o produto pode ser encontrado em postas, inteiro ou dessalgado. A preferência do consumidor pode impactar no preço: o quilo do bacalhau do Porto varia entre R$ 34,90 e R$ 43,99, enquanto o Saith, mais popular e de sabor mais forte, custa entre R$ 28,99 e R$ 31,90 o quilo.
A tradição
Pároco da paróquia do Sagrado Coração de Jesus, no Bairu, o padre Tarcísio Marcelino Ferreira Monay explica que a tradição vem perdendo força. "Como os cristãos ainda são uma maior população, ainda há muita gente que faz, mas hoje as pessoas não levam isso em conta, comem a carne. A Quaresma nos chamava para ser mais silenciosa, hoje o pessoal não liga mais. Eu não vou dizer que a maior parte dos católicos tenham observância neste sentido", observa.
Uma questão que tem influenciado, segundo o sacerdote, é forma de criação dentro das famílias, que passaram a ter menos rigidez quanto a este tipo de prática. "Pais e mães que mostraram para as crianças como costumam seguir, isso tem uma influência muito forte. A mãe que passa para o seu filho, preserva a tradição. Se os pais não fazem, realmente o filho não vai ter interesse. Dentro da Igreja, nós padres, bispos, leigos e pessoas ativas sempre vêm alertando para a importância do jejum em suas vidas. A abstinência pode trazer resultados muito significativos não só para a fé, como também nutricionais."
O sacerdote explica que a prática de jejum era realizada desde o tempo de Jesus Cristo, quando as pessoas abdicavam da carne vermelha no período da Quaresma. "Àquela época, comiam carne, amido e trigo. Hoje nós temos muitas coisas, uma variedade enorme. Eles faziam a abstinência da carne vermelha, que tinha proteína. O peixe substituía por ser um alimento puro, já que muitas carnes vermelhas tinham toxinas. Muitos ainda preservam a sexta-feira santa como dia de jejum, e durante a quaresma, costumam jejuar em todas as quartas e sextas", completa.
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