Dentistas aproveitam pouco o tempo da jornada de trabalhoOdontólogos da rede de saúde municipal aproveitam apenas 52% da jornada em atendimento. UBSs não contam com atendentes para auxiliar os profissionais
Repórter
13/8/2009
A saúde bucal pública em Juiz de Fora está longe de alcançar a meta de aproveitamento de tempo do profissional preconizada pelo Ministério da Saúde (MS). Enquanto o órgão máximo que regula a atividade no Brasil prevê que o dentista deve dedicar pelo menos 85% de sua jornada fazendo atendimento direto ao paciente, em Juiz de Fora o aproveitamento de tempo não passa dos 52%.
Isso porque, de acordo com o presidente do Sindicato dos Odontologistas de Juiz de Fora, Ricardo Rodrigues Werneck, os profissionais que trabalham nas 26 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município não contam com o auxílio de atendentes de saúde bucal (ASBs). "Assim, o dentista tem que realizar os procedimentos de saúde bucal, lavar e esterilizar instrumentos, atender as ligações telefônicas, fazer a marcação de consultas na agenda e até abrir a porta. É impossível cumprir a meta nessas condições."
A informação é confirmada pelo Departamento de Saúde Bucal da Prefeitura. De acordo com a chefe do setor, Maria Aparecida Martins Baeta, apenas os quatro Centros de Especialidade Odontológica (CEOs), as três Unidades Odontológicas Regionais (UOR), o Centro Odontológico de Atenção a Pacientes com Necessidades Especiais (Coape) e o Hospital de Pronto Socorro (HPS) contam com os auxiliares de dentistas. "Onde há esses profissionais o aproveitamento varia de 66% a 100%. Os ASBs fazem todo o serviço de secretariado, dão orientações e ainda preenchem documentos."
Segundo Maria Aparecida, a contratação de dez ASBs foi solicitada à Secretaria de Administração e Recursos Humanos, que avalia a possibilidade. Werneck afirma, no entanto, que o ideal é cada um dos 129 dentistas prestadores de atendimento à população via saúde pública tenha um auxiliar. Hoje o município emprega 15 servidores ASBs.
Número de consultas e procedimentos pode diminuir
Com o aproveitamento de 52%, a saúde municipal conseguiu realizar 117.153 consultas e procedimentos, no primeiro semestre de 2009. O número poderia ser aumentado em 30%, caso a meta preconizada pelo MS fosse alcançada. Além da falta dos auxiliares, a perda de seis profissionais no último ano, por aposentadoria e pedidos de demissão, deve diminuir a quantidade de atendimentos.
Em 2008, 249.432 consultas e procedimentos foram realizados na rede municipal de saúde bucal. Com a defasagem de profissionais, Maria Aparecida acredita que o número fique em torno de 230 mil este ano. O baixo resultado já é sentido, uma vez que os dados do primeiro semestre de 2009 indicam que as consultas e procedimentos não chegaram à metade do total realizado no ano passado. "Isso acontece porque janeiro e fevereiro são meses de férias de profissionais", justifica.
A quantidade de pessoas que tiveram tratamento dentário concluído no primeiro semestre deste ano também não chega à metade do registrado em todo o ano de 2008. Enquanto no último ano foram finalizados 24.637 tratamentos, nos seis primeiros meses de 2009, 10.801 concluíram tratamento.
Infraestrutura das UBSs dificulta atendimento
Outro problema mencionado por Werneck em relação ao atendimento é a infraestrutura das UBSs. Segundo o sindicalista, em algumas faltam equipamentos, as cadeiras estão em condições precárias de uso, torneiras não funcionam e há até mofo. "É complicado trabalhar nessas condições." Maria Aparecida admite que a infraestrutura física de algumas UBSs está comprometida. Ela lembra que, muitas delas não foram projetadas para oferecer atendimento dentário. "No entanto, todos os nossos equipamentos estão dentro do que prevê a vigilância sanitária e as normas da Secretaria de Estado de Saúde."
Campanha salarial
A falta de auxiliares, as condições de trabalho e a infraestrutura das UBSs juntam-se à questão salarial na pauta de reivindicações da classe. Segundo Werneck, tais elementos combinados podem ter ocasionado os pedidos de demissão de alguns funcionários no início deste ano. "Durante a negociação com a Prefeitura, não conseguimos a recomposição das perdas de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Além disso, o dentista recebe hoje apenas 75% do valor que deveria a ser pago ao servidor com formação superior na Prefeitura. No final das contas, o montante fica em torno de três salários mínimos, quando, na verdade o ideal seria um mínimo de R$ 7 mil para a classe."
Dentistas no PSF
A ausência de equipes de odontologia no Programa de Saúde da Família (PSF), em Juiz de Fora, também incomoda os sindicalistas. De acordo com Werneck, como instrumento de promoção de saúde, o programa poderia ficar responsável pela prevenção de enfermidades dos dentes e da boca. "Os agentes poderiam ficar responsáveis pelo pré-natal odontológico e pela educação para melhores hábitos de higiene, por exemplo." Segundo ele, o serviço já é oferecido em cidades do entorno, como Mar de Espanha, Bicas e Argirita.
Maria Aparecida afirma que existe um programa de prevenção, com capacitação de agentes de saúde, que realizam a promoção em nível domiciliar. Ela informa ainda que foi realizado um estudo para criação de dez equipes de dentistas para atuar no PSF. Os profissionais trabalhariam 40 horas semanais e a manutenção das equipes, formadas por dentistas, um auxiliar de nível médio e um auxiliar de nível fundamental, custaria em torno de R$ 741 mil por ano.
"Esse montante poderia ser bancado por verba do Ministério da Saúde, que está disponível especificamente para inserção deste tipo de equipe no PSF. Só seria necessário que a Prefeitura se organizasse a fim de apresentar um projeto, solicitando os recursos", afirma Werneck.
Os textos são revisados por Madalena Fernandes
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