Confiança e contato social são as principais armas contra o crack
*Colaboração
Com a premissa "Precisamos falar sobre o crack", um seminário iniciado na manhã desta terça-feira, 29 de junho, reuniu autoridades no assunto para debater, junto à diversos segmentos da sociedade, soluções e políticas públicas para o grande problema que bate à porta dos brasileiros. A iniciativa surgiu da intensa presença do crack na vida de crianças e de adolescentes em regiões carentes de Juiz de Fora.
Para o coordenador do Instituto Educação e Cidadania (IEC) - idealizador do seminário -, o ex-deputado estadual Biel Rocha (PT), define que até então o problema do crack estava longe, mas começou a refletir na comunidade como um todo e, principalmente, entre meninos de 9 e 10 anos. "É um problema diferente de todos que já vimos. O caminho é o trabalho de prevenção e conscientização da comunidade. Vemos a dificuldade de políticas para esta área. Juiz de Fora não está preparada para entender que quem usa a droga é doente e não bandido", explica.
Para Biel, o primeiro passo é acabar com o preconceito e com o medo, para então estabelecer uma relação de confiança com o usuário. "Deve ser feito assim como ocorreu com as políticas para a AIDS. Devemos perder o preconceito assim como perdemos com o portador do vírus. A abstinência total é pior. Temos que discutir outras instâncias de tratamento. Privar a liberdade não é o principal", ressaltou Biel, referindo-se ao tratamento baseado em medicamentos e fechado em hospitais ou clínicas.
Sociedade como um todo
Para o major da Polícia Militar (PM), Almir Cassiano de Almeida, o problema da droga é crescente na cidade e iniciativas isoladas não são suficientes para controlar o problema. "Não me arrisco a dizer que Juiz de Fora não tem um único bairro que não possua uma boca de fumo de crack. A droga não precisa de marketing e nem de propaganda. O Brasil se vangloriou de não ter recebido a heroína, uma droga que devastou a Europa, mas recebeu o crack, que é muito pior", destaca. Para o policial, uma das soluções seria criar uma linha única de atuação para atender a demanda.
Seguindo esse preceito de atuação conjunta, a psicóloga do Departamento de Saúde Mental da Prefeitura (PJF), Rita de Cássia Almeida Araújo, aponta para a participação de toda a sociedade no combate à droga. "O crack não é nosso inimigo, é consequência. Ele se instalou na sociedade por conta da miséria, da precariedade na saúde, da falta de lazer e de poucas políticas públicas. É um equívoco achar que a droga nos escolhe", destaca. Segundo a psicóloga, o tipo de tratamento específico para o crack só motiva a institucionalização de diferenças.
Assim como Biel, ela defende a conversa e medidas de socialização do usuário. "A primeira coisa é fortalecer os Caps AD [Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas] e criar outros centros para tratamento social. Em setembro, vamos criar um núcleo infantil dentro do Caps AD para o acompanhamento de crianças e adolescentes envolvidos com a droga." Além dessas medidas, Rita de Cássia também levantou a criação de dois leitos para adultos no Hospital João Penido e dois no Pronto Atendimento Infantil (PAI) para jovens.
Ainda na questão do tratamento hospitalar, a psicóloga lembrou de dois projetos que estão em andamento para a criação de 16 leitos para desintoxicação no Hospital Ana Nery. "Esse é um trabalho intersetorial. Todos nós precisamos nos responsabilizar, seja na saúde, na educação, no serviço social e na segurança pública", conclui. A psicóloga da Casa de Cidadania no Vale Verde, Maria José Figueira Pereira, apoiou as sugestões e destacou o trabalho no espaço, que realiza atividades de prevenção em 356 adultos e 78 crianças da região, além de envolver 20 adolescentes na participação das atividades. "Temos que trazer alternativas prazerosas, principalmente em relação ao álcool, à maconha e ao crack."
IEC
O IEC é uma entidade que atua junto com cerca de 300 adolescentes em seis bairros da cidade. Foi fundado em 2005 e conta com a participação de 15 profissionais, dentre psicólogos, advogados, pedagogos, sociólogos, enfermeiros e serviços gerais. No instituto, os jovens realizam atividades socioeducativas, como oficinas de capoeira, teatro, hip hop, dança e reforço escolar. A faixa etária das crianças vai de 6 até 17 anos. A demanda é reconhecida pela própria comunidade em contato com os envolvidos no projeto.
*Pablo Cordeiro é estudante do 10º período de Comunicação Social da UFJF
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