Sábado, 14 de novembro de 2015, atualizada às 10h41

Médico esclarece dúvidas sobre a depressão, doença do século 21

Lucas Soares
Repórter

A depressão, doença que apresenta um distúrbio afetivo no paciente, atinge cerca de 7% da população mundial, quase 400 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A chamada Doença do Século 21, já que vem se manifestando com maior frequência nos últimos anos, tem várias causas e fatores, que podem ir desde o ambiente em que o indivíduo está, como fatores genéticos.

Para entender melhor a doença, o Portal ACESSA.com conversou com o médico psiquiatra Glauco Correa de Araujo. O profissional tirou dúvidas sobre o que é a depressão, como ela se caracteriza e quais são as formas da doença se manifestar. Confira.

Portal ACESSA.com - Em que se caracteriza a depressão?

Glauco Correa de Araujo - Trata-se de enfermidade, de intensidade variável, em que o indivíduo apresenta humor deprimido, perda de interesse, prazer e energia, fadiga crônica, baixa estima, alterações de sono, apetite e de líbido, ideação de culpa, pessimismo e até de suicídio. A irritabilidade e queixas de dores diversas são também comuns.

Portal ACESSA.com - Existem formas diferentes para a doença se manifestar?

Glauco Correa de Araujo - Há variações amplas entre a intensidade dos sintomas, como também em suas características, como aumento ou diminuição do apetite e do sono. Em outras ocasiões, os sintomas preponderantes são dores diversas e mal humor.

Portal ACESSA.com - Quais são os fatores que causam a depressão?

Glauco Correa de Araujo - Ela é causada pela conjunção entre vulnerabilidade individual, de natureza biológica, herdada, e fatores de natureza cognitiva e psicodinâmica, em associação com estressores ambientais.

Portal ACESSA.com - Ouve-se falar que uma pessoa com depressão apresenta sintomas, como dores de cabeça. É verdade?

Glauco Correa de Araujo - Cerca de 75% dos pacientes com episódios se queixam de dores, as mais diversas, sendo comum dores de cabeça e dores musculares e articulares. Isto, muitas vezes, faz com que o indivíduo busque ajuda de clínicos, por não identificarem ou relacionarem os episódios álgicos com alterações de humor.

Portal ACESSA.com - Existe tendência genética para apresentar a doença?

Glauco Correa de Araujo - Sim. Filhos de pais com transtornos depressivos têm 75% a mais de probabilidade de também desenvolverem estados depressivos. É usual encontrarmos outros familiares com histórico de depressão e de outros transtornos psiquiátricos, como alcoolismo, por exemplo, ao analisarmos a história familiar de pacientes depressivos.

Portal ACESSA.com - Ela foi apelidada de doença do século 21. A solidão e o stress contribuem para isso?

Glauco Correa de Araujo - Sim, a doença do século 21. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a depressão será até o ano de 2020 a segunda maior causa de incapacitação entre todas as enfermidades, não somente entre as psiquiátricas, sendo superada apenas pelas doenças cardio-vasculares. A má qualidade de vida, o estresse e a solidão estão entre os principais fatores que contribuem para seu desenvolvimento.

Portal ACESSA.com - Existem níveis de depressão?

Glauco Correa de Araujo - Existem amplas variações, desde a depressão crônica e de difícil percepção, como a distimia, muitas vezes tida como característica própria do indivíduo, erroneamente tomado como ranzinza, mal-humorado e queixoso, como as depressões de natureza psicótica, cursando até com delírios e alucinações, passando também por aquelas características dos indivíduos bipolares. Cabe ao psiquiatra o correto diagnóstico e a elaboração do adequado plano de tratamento.

Portal ACESSA.com - Qual a melhor forma de tratamento?

Glauco Correa de Araujo - Com a grande evolução das neurociências, a medicina possui hoje um amplo arsenal de fármacos para o tratamento da depressão em suas diversas apresentações. São, em geral, medicações de alta eficiência, boa tolerabilidade e isentas do risco de dependência. Entretanto, devem ser reservadas exclusivamente para prescrições de psiquiatras, visto a especificidade da enfermidade. Juntamente com o tratamento farmacológico, é indispensável o acompanhamento psicoterápico, seja pelo próprio médico psiquiatra, seja por psicólogo. Nos dias atuais, há notória relevância da chamada Terapia Cognitiva para depressão, com resultados bastante satisfatórios em tempo bastante aceitável.

Portal ACESSA.com - Como a família pode ajudar uma pessoa com depressão?

Glauco Correa de Araujo - A participação dos familiares é indispensável. Um bom suporte familiar é fator de bom prognóstico e, mesmo nos casos mais graves, o paciente poderá ser tratado junto a seus familiares, com otimização da resposta, evitando-se, inclusive, indicações de internação hospitalar, tão comuns até recente tempo.

Portal ACESSA.com - Ela é mais comum em homens ou mulheres?

Glauco Correa de Araujo - Estatisticamente as mulheres são mais afetadas pela depressão do que os homens, em até duas vezes. Isto se explica por sua constituição hormonal e, curiosamente, por buscarem atenção médica ou psicológica com muito menos inibição do que os homens.

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