Ana Stuart Ana Stuart 1/6/2011

Semelhanças insuportáveis


PessoasFicamos todos imobilizados diante de jovens de família que, reunidos, matam índios, espancam prostitutas e homossexuais. O mais estarrecedor é que, normalmente, são adolescentes que praticam estes atos, ou jovens adultos de classes sociais privilegiadas.

Sabemos que esta fase do rito de passagem da infância para a adolescência é de muito medo e fragilidade e que, por isso, necessitam dos grupos afins, para que consigam se sentir seguros, por meio de uma identificação. Andam em bandos, se vestem de forma parecida e, normalmente, conversam o dia inteiro por redes sociais, quando o contato não é feito pessoalmente.

Referimos-nos às semelhanças insuportáveis pelo fato de que quando deparam-se com as próprias fragilidades, ficam agressivos. Afinal, não sentem-se bem ao depararem-se consigo estampados nos outros. Quando espancam e matam, inconscientemente, estão exterminando suas fraquezas. Repare em casa, quando seu adolescente torna-se agressivo, ele ou ela só fica desta forma para que você reaja, não sendo necessário que ele mostre sua fragilidade. Ele ou ela não suportaria o espelho.

Quando os pais ou cuidadores não suportam a pressão, é necessário que estejam preparados, a fim de conseguir reunir forças para o enfrentamento. Logicamente será um processo de estratégias e não de agressividade paralela. Quando estes jovens usam drogas para "ter coragem", o processo agressivo maximiza-se. Normalmente começam pelo álcool - que é a pior delas, por ser considerada a porta de entrada. Inclusive por ser uma droga lícita, o álcool abre todas as portas, principalmente quando, em casa, é um "costume social".

As pré-disposições psíquicas podem ser outro fator preponderante, ou seja, os transtornos psicóticos já existentes que acabam por se aflorar a partir do uso das drogas. Não adianta palavras apenas, é necessário que o exemplo arraste.

Pais e/ou cuidadores, incluindo professores com dificuldades para colocar limites, devem frequentar o grupo de apoio como, por exemplo, o "Amor Exigente". Este grupo ensina-nos a amar, mas não aceitar o que fazem sem limites e costumam chamar de amor e respeito, sejam atitudes voltadas para si mesmo ou para seu próximo.

Olhando para dentro de nós, vamos observar o mesmo processo, o que me incomoda no outro são minhas semelhanças insuportáveis. A partir do momento em que não me incomoda mais, é sinal de que superei. Se queremos uma sociedade melhor, devemos começar pelo núcleo pessoal para, somente depois, passar para o familiar e social.

Mas, se possuirmos a consciência de que as semelhanças de nossas fragilidades são insuportáveis, já estaremos a caminho de um equilíbrio necessário para a sobrevivência e para a qualidade de vida.


Ana Stuart
é psicóloga e terapeuta familiar


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