Artigo
Suplementos - Parte I

22/08/2001

Tem se tornado muito comum o uso de suplementos nutricionais nos dias de hoje. Na maioria das vezes, esses suplementos referem-se a c?psulas de vitaminas e sais minerais. Na busca de melhor qualidade de vida, muitas pessoas t?m investido no consumo desses produtos, como forma de prevenir doen?as, melhorar o desempenho nas atividades f?sicas e mentais e, principalmente, retardar o envelhecimento.

Mas ser? que tais suplementos realmente t?m o efeito que lhes ? atribu?do? Muitos s?o os argumentos de quem comercializa tais produtos. Os principais s?o aqueles que relacionam as condi?es de vida atual (stress constante, exposi??o ? polui??o) com o aumento das exig?ncias nutricionais que, dificilmente, seriam supridas pela alimenta??o comum.

Primeiramente, precisamos definir o que ? necessidade nutricional, que significa a quantidade de nutrientes presentes nos alimentos suficientes para satisfazer as necessidades fisiol?gicas normais e prevenir sintomas de defici?ncias.

Com rela??o ?s quantidades adequadas dos diversos nutrientes (vitaminas, minerais etc), os cientistas e estudiosos do assunto procuram estabelecer as recomenda?es nutricionais (chamadas no meio cient?fico de RDAs), as quais s?o definidas como ?os n?veis de ingest?o de nutrientes essenciais que, com base nos conhecimentos cient?ficos, s?o julgados por ?rg?o de reconhecimento internacional (o Food and Nutrition Board) como sendo adequados para cobrir as necessidades de nutrientes espec?ficos de praticamente todos os indiv?duos saud?veis?.

Portanto, o estabelecimento das quantidades de nutrientes, a serem obtidas a partir dos alimentos, ? fruto de anos de pesquisas e estudos muito bem conduzidos, para que possam ser aceitos no meio cient?fico mundial. Normalmente, essas recomenda?es, uma vez estabelecidas, s?o utilizadas como base para toda a popula??o mundial, salvo algumas pequenas varia?es de acordo com o clima e as condi?es de algumas regi?es do globo (por exemplo: maior necessidade de vitamina D para pessoas que vivem em pa?ses onde h? pouca incid?ncia da luz solar).

Sendo assim, enquanto entendemos que os nutrientes devem ser obtidos, primariamente, atrav?s das refei?es di?rias, existem quantidades estabelecidas para cada vitamina ou mineral. Vale frisar que tais quantidades podem ser obtidas, normalmente, na alimenta??o di?ria, sem necessidade de suplementa??o, quando se trata de pessoas saud?veis.

N?o se sabe, tamb?m, se a exposi??o a agentes poluentes, por exemplo, levaria a maiores necessidades de vitaminas e minerais e, se assim fosse, se uma alimenta??o equilibrada j? n?o seria o bastante, uma vez que as cotas estabelecidas j? prev?em quantidades suficientes para prevenir defici?ncias que podem ocorrer ao longo da vida. Para isso, seriam necess?rios estudos que definissem as perdas de nutrientes geradas por esses agentes externos e qual a necessidade de reposi??o. O mesmo pode se dizer quanto ao stress, t?o citado como importante causa para levar a um maior consumo de vitaminas e minerais.

? sabido, entretanto, que algumas doen?as ou altera?es no metabolismo podem comprometer a absor??o de nutrientes ou exigir um maior consumo de alguns tipos de vitaminas ou minerais. Nesses casos, s?o necess?rios exames espec?ficos e acompanhamento m?dico.

Resumindo, as cotas de vitaminas e sais minerais s?o definidas a partir de intensas pesquisas, desenvolvidas durante um tempo relativamente longo, e as defini?es de quantidades di?rias necess?rias por pessoa t?m por objetivo a manuten??o de uma boa qualidade de vida e a preven??o de doen?as poss?veis de serem evitadas atrav?s de uma alimenta??o adequada. Teoricamente, segundo esses estudos, uma alimenta??o equilibrada, onde todos os alimentos necess?rios estejam presentes em quantidades adequadas, ? o suficiente para esse fim, sem haver necessidade de nenhum suplemento. Nessas quantidades, definidas por comiss?es de especialistas no assunto, j? s?o previstas algumas necessidades extras, como a resist?ncia a infec?es, manuten??o da integridade da pele, altera?es clim?ticas etc.

Como j? foi dito, podem ocorrer condi?es em que as necessidades indicadas a serem ingeridas atrav?s da alimenta??o n?o s?o suficientes. Tais situa?es, por?m, s?o geralmente transit?rias, normalmente causadas por doen?as ou condi?es que impedem o organismo de manter a sua integridade normal. Um exemplo disso ? a anemia, que exige, para o seu tratamento, uma ingest?o de ferro acima das recomenda?es nutricionais at? que as reservas de ferro do organismo sejam recompostas. A partir da?, volta-se ?s recomenda?es para um consumo normal. O mesmo pode ocorrer na osteoporose, sendo que, nesse caso, a suplementa??o pode ser necess?ria por tempo indeterminado.

? importante lembrar que, quando um determinado nutriente precisa ser ingerido acima das quantidades recomendadas, ele torna-se um medicamento, devendo ser ingerido mediante recomenda??o e acompanhamento m?dico, e sempre com um objetivo espec?fico, como tratar uma determinada doen?a ou defici?ncia alimentar grave, que dificilmente seria resolvida s? pela alimenta??o. Um exemplo disso ? a medicina ortomolecular, que utiliza dosagens altas de vitaminas e minerais por tempo determinado e com prescri??o e acompanhamento m?dico.

Apenas o profissional m?dico est? devidamente habilitado para prescrever suplementos de minerais e vitaminas que ultrapassem as recomenda?es nutricionais, uma vez que tais dosagens podem causar diversos efeitos colaterais, a m?dio e longo prazo, e s? o acompanhamento desse profissional pode reduzir ou minimizar esses efeitos. Nenhum outro profissional de sa?de est? devidamente habilitado para isso, sendo importante que se procure acompanhamento antes de adquirir e utilizar tais produtos.

Existem tamb?m estudos novos na ?rea da nutri??o que mostram que, para a maioria dos casos de defici?ncia nutricional, os alimentos fortificados (enriquecidos com vitaminas e/ou minerais) s?o a forma mais eficiente para suprir necessidades especiais de nutrientes, como ? o caso do tratamento da osteoporose.

Concluindo, podemos assim resumir as vantagens e desvantagens dos suplementos vitam?nicos ou minerais:

Vantagens:

  • Podem ser ?teis em casos de defici?ncia alimentar grave, quando a pessoa, por algum motivo, n?o pode consumir determinados alimentos que s?o fontes de nutrientes importantes (exemplo: intoler?ncia ao leite e/ou derivados pode levar a uma grave defici?ncia de C?lcio, o que necessitaria de reposi??o atrav?s de outros alimentos fortificados com esse nutriente ou suplementos de minerais que contenham boa quantidade de C?lcio).
  • Normalmente s?o indicados quando j? h? uma defici?ncia nutricional grave, que demoraria a ser tratada apenas atrav?s da alimenta??o di?ria; nesse caso, devem ser utilizados por tempo determinado, at? a redu??o dos sintomas da defici?ncia.


Desvantagens:

  • Quando ultrapassam as recomenda?es nutricionais (RDAs) exigem prescri??o e acompanhamento m?dico.
  • Podem ter efeito cumulativo no organismo, dependendo da sua formula??o qu?mica, o que dificilmente ocorreria no consumo de alimentos ricos em vitaminas e minerais.
  • N?o podem ser utilizados por tempo indeterminado, a n?o ser sob orienta??o espec?fica.
  • Os de melhor proced?ncia s?o, geralmente, caros e podem ser substitu?dos por combina?es de alimentos facilmente adquiridos sem grande despesa.

Para quem se preocupa com sua alimenta??o e acredita que tem necessidade de ingerir c?psulas de vitaminas e/ou minerais, experimente, primeiro, buscar uma alimenta??o equilibrada, ingerindo boas quantidades de legumes, verduras, frutas, cereais etc, reduzindo o consumo de gorduras e a?car, e n?o exagerando no consumo de carnes e outras fontes de prote?na animal.

Se ainda assim acreditar que existem defici?ncias em seu organismo, procure a opini?o de um especialista no assunto, fazendo exames espec?ficos para detectar se realmente existem defici?ncias antes de ingerir suplementos. Acima de tudo, ? importante nunca seguir conselhos de leigos no assunto, principalmente, aqueles que trabalham na venda desses produtos, assim como n?o se deve utilizar suplementos por conta pr?pria, sem orienta??o profissional.

Vale frisar que as vantagens dos alimentos sobre os suplementos s?o in?meras e, entre elas, se pode citar:

  • t?m diversos nutrientes associados, o que geram uma melhor facilidade para o organismo absorv?-los;
  • dificilmente ir?o se acumular no organismo, mesmo quando se consome em quantidades grandes, porque existem mecanismos fisiol?gicos de elimina??o das quantidades excessivas, o que geralmente n?o ocorre com os suplementos;
  • s?o relativamente baratos e de f?cil aquisi??o, uma vez que h? uma grande variedade de alimentos que s?o fontes de um mesmo nutriente, oferecendo v?rias op?es de consumo.
Observa??o: Quando os cientistas e estudiosos da Ci?ncia da Nutri??o estabelecem as RDAs (ou recomenda?es nutricionais), tamb?m estabelecem n?veis seguros de ingest?o de nutrientes (mesmo que ultrapassem as RDAs), assim como dosagens t?xicas, que seriam aquelas em que esses mesmos nutrientes come?ariam a causar efeitos colaterais no organismo, muitas vezes gerando sintomas pr?ximos daqueles gerados pela defici?ncia. Desse assunto trataremos na segunda parte desse artigo.


Cristina Garcia Lopes
? nutricionista formada
pela Universidade Federal de Vi?osa.
Saiba mais clicando aqui.

Sobre quais temas (da ?rea de nutri??o) voc? quer ler novos artigos nesta se??o? A nutricionista Cristina Lopes aguarda suas sugest?es no e-mail nutricao@jfservice.com.br


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