Musicoterapia
A arte do inconsciente

Flávia Machado
14/11/01

Música para relaxar, para meditar e para fazer terapia. Terapia? Isso mesmo. Muita gente não sabe, mas a música, dentre suas inúmeras funções, também é usada com objetivos terapêuticos. É a chamada musicoterapia, que utiliza sons, ritmos e harmonias para trabalhar a comunicação e a expressão, a timidez, a coordenação motora e até mesmo para tratar stress, depressão, distúrbios do sono e da fala e pacientes psicóticos. E os resultados são surpreendentes. Quem afirma todas estas qualidades é o musicoterapeuta, Edson Augusto Zaguetto.

Ele explica que a musicoterapia consiste na execução de vários instrumentos, que são utilizados de acordo com a necessidade de cada tratamento. O trabalho está fundamentado no chamado 'ouvir ativo', apesar de o núcleo da terapia ser o de tocar os instrumentos. "Mas também não é necessário que o paciente saiba tocar um instrumento. O importante não é o senso estético da música e sim, o processo e o esforço para conseguir um movimento."

O fazer musical compreende a escuta, o canto, a execução de instrumentos, a movimentação corporal, entre diversas outras atividades, que envolvem o som e o movimento. Tudo isso é feito num ambiente propício, chamado de 'setting terapêutico'. O objetivo é facilitar através da música a troca de idéias, emoções e sentimentos entre paciente e terapeuta, para que este possa conhecer e entender seu objeto de estudo.

"A resposta do paciente ao tratamento é quase que imediata, pois a música é uma arte que não necessita passar pelo mundo das idéias para buscar uma expressão. Diferentemente da pintura e da escultura, por exemplo, onde as imagens são captadas da própria natureza", acrescenta.

Apesar de não ser um especialista formado, o psicólogo, Eduardo Calil Hallack, também utiliza a música em suas análises. Ele acredita que a música, bem como as artes em geral, devem ser usadas como uma ponte para entender a saúde mental dos pacientes. E a idéia é mesmo essa. Conseguir uma ponte entre os sons e o inconsciente. Edson Zagueto afirma que a terapia com música é o caminho mais eficaz no tratamento com autistas, que geralmente, não apresentam nenhuma resposta às mais variadas terapias.

Significado e significante

  • Instrumentos de sopro: Têm relação com o pensar. São tocados com a boca, ficando os instrumentos próximos à cabeça, parte central do sistema neuro-sensorial. Desta forma, estimulam o pensar, interagindo com o sistema respiratório. Possuem ligação com o elemento musical 'melodia'. Os mais usados são as flautas de vários tipos, como as pentatônicas e as diatônicas.

     

  • Instrumentos de cordas: São tocados abraçados e mantidos próximos ao centro do corpo. Têm relação com o sentir e com o sistema rítmico, porque no centro do corpo estão as atividades rítmicas do pulsar do coração e da atividade respiratória rítmica pulmonar. São ligados ao elemento musical 'harmonia'. Os mais usados são a lira (instrumento grego cujo som tem efeito relaxante e, por possuir pouca sonoridade, estimulante da audição) e a 'krota' (instrumento celta reconstruído pela Antroposofia, neste século, para a Musicoterapia) e o Kântele instrumento que teve sua origem na Finlândia.

     

  • Instrumentos de percussão: Têm relação com os membros do corpo humano, que, com o sistema metabólico, correspondem ao pólo da vontade (querer/agir) - é através dos membros humanos (pernas e braços) que concretizamos nossas ações e podemos agir em relação ao social. Sua maneira de tocar - a batida - é uma manifestação de pura vontade. Os mais usados são os tambores, paus de percussão, barras, canos ou chapas metálicas sonoras (como o xilofone), gongos e pratos.

     

 

 


A música no sangue

O Curso de Musicoterapia, apesar de pouco difundido, já é reconhecido pelo MEC desde 1978. No Brasil, existem, pelo menos, dez cursos habilitados.
Edson Augusto Zaghetto Ferreira é psicólogo, músico e musicoterapeuta, com curso de formação e ampliação antroposófica em São Paulo. Já realizou inúmeros trabalhos voltados para a musicoterapia, como a participação em seminários e atuação como professor de música no Conservatório Estadual de Música e no Centro Cultural Pró-Música. Atualmente atua com Musicoterapia, Psicologia Clínica e Desvendar da voz e Iniciação Musical para crianças.


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