Quando assistiu ao clássico Priscilla, a Rainha do Deserto, ainda adolescente, Tiago ficou hipnotizado pelos figurinos, pela ousadia das performances e, claro, pela maquiagem. Naquela época, não imaginava que um dia ele próprio subiria ao palco transformado — não só visualmente, mas também artisticamente — como Titiago, uma das drags mais conhecidas de Juiz de Fora.

“Eu dizia que nunca ia me montar”, relembra. Mas tudo mudou quando o dono da boate Stand-Up insistiu: "Você precisa tentar." Tiago topou, subiu ao palco e nasceu ali A Titiago. O nome virou marca e presença na cena LGBTQIAPN+ da cidade.

Do andrógino à cantora: uma artista em constante evolução

No início, os shows eram mais voltados para a androginia — uma expressão artística que brinca com os gêneros, misturando características masculinas e femininas de forma fluida e provocativa. “Não era uma drag tradicional, com enchimentos e perucas enormes. Eu estava em algum lugar entre o masculino e o feminino, usando isso como potência de expressão”, explica.

Mas com o tempo, Titiago se reinventou. Passou da dublagem para o microfone e embarcou na onda das drags cantoras. Hoje, soma 16 videoclipes no YouTube, já apresentou eventos importantes na cidade, é ator com DRT e foi destaque em realities como o Academia de Drags e o Programa Raul Gil. Sua arte também chegou à TV Globo e ao SBT, sempre com muito brilho, humor e potência.

Uma drag no interior: acolhimento do público

“Ser drag no interior já é difícil. Ser artista LGBTQIAPN+ é ainda mais”, afirma. Mas Juiz de Fora, aos poucos, foi acolhendo Titiago e tudo o que ela representa. Atualmente, participa de festas importantes como a Glitter, no Rocket Pub, a Semana do Orgulho e o Bloco das Cores, no Carnaval. “Eu acho que a cidade acredita em mim. O público comparece aos eventos, apoia. Isso faz toda a diferença.”

De Juiz de Fora para o mundo

O ponto alto recente da carreira foi cruzar fronteiras estadunidenses — literalmente. Titiago realizou seis shows em Nova York: um como DJ e outro como performer no famoso Drag Brunch, uma das maiores referências da cena drag internacional. Ela se apresentou inclusive na virada do ano, com casa cheia e muita emoção.

“A cultura drag é valorizada lá. Fiz um ensaio fotográfico pelas ruas e as pessoas me paravam para perguntar de onde eu era. Havia curiosidade e respeito ”. Ela também notou uma diferença cultural interessante: o hábito de deixar gorjetas. “No Brasil não temos isso. Lá, você percebe o reconhecimento em tempo real, é uma forma de dizer que a arte vale.”

Mensagem e futuro

“Drag é o que alimenta minha alma. Conquistei espaços que jamais imaginei conquistar”, diz, emocionada. A principal mensagem que carrega? “Nunca desista dos seus sonhos por conta de um não. Quando não há oportunidade, a gente cria.”

E falando em criar, vem aí mais um marco: a primeira edição do Star Brunch em Juiz de Fora, produzida e idealizada por ela e que acontece no dia 27 de abril no Lourdes Square, no bairro São Mateus e tem como objetivo unir e celebrar a cultura LGBTQIAPN+ em uma tarde divertida, com drinks e cafés. “Quero levar esse formato para a minha cidade. Trazer essa energia, essa celebração da diversidade. E mostrar que arte drag é potência, é resistência, é festa — mas também é profissão e amor.”

 

 

Foto: Titiago - Ensaio fotográfico em New York.

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