Nos últimos anos, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, tem se destacado como um dos principais críticos do modo de vida contemporâneo, particularmente em relação às dinâmicas de produção e consumo na era do neoliberalismo. Em sua obra "A Sociedade do Cansaço (2017)", Han argumenta que vivemos em um regime marcado pela pressão constante de produtividade, eficiência e resultados, o que leva à exaustão física e mental. Nesse contexto, a ansiedade por resultados é um dos elementos centrais que caracteriza o sujeito contemporâneo, imerso em um ciclo incessante de autoexploração e fadiga.

Byung-Chul Han apresenta a tese de que a sociedade moderna não é mais disciplinar, como era descrita por Michel Foucault, mas sim uma sociedade de desempenho. Se antes os indivíduos eram moldados por uma disciplina externa, regulada por instituições como escolas, fábricas e prisões, hoje eles são regidos por uma lógica de autoexploração.

O sujeito da sociedade contemporânea, chamado por Han de "sujeito de desempenho", é alguém que se autoconstrange a ser sempre mais eficiente e produtivo, internalizando essa pressão de maneira profunda. Ao invés de serem forçados a produzir por uma autoridade externa, os indivíduos agora se sentem compelidos a isso por uma motivação interna que visa superar constantemente seus próprios limites.

Esse movimento é impulsionado pela ideologia neoliberal, que transforma o sujeito em empresário de si mesmo, alguém que deve gerir a própria vida como um projeto contínuo. A ansiedade por resultados surge, nesse cenário, como consequência direta da exigência constante de superação e melhoria. O fracasso, nesse contexto, não é apenas um obstáculo profissional, mas uma falha pessoal, gerando sentimentos de inadequação e ansiedade crônica.

Han sugere que vivemos em uma era de "excesso de positividade". O excesso de estímulos, opções, tarefas e informações resulta em uma sobrecarga psíquica, e a pressão para sermos bem-sucedidos em todas as esferas da vida, incluindo a profissional, pessoal e até mesmo nas redes sociais, cria uma forma de cansaço crônico. Esse "excesso de positividade" é o motor da ansiedade contemporânea, pois impõe a ideia de que sempre há algo mais a ser alcançado, algo mais a ser feito. Nessa lógica, o repouso e a contemplação se tornam quase impossíveis, pois o sujeito é constantemente pressionado a agir, a produzir e a obter resultados.

A autoexploração, que é uma característica marcante desse regime, não permite descanso. Ao contrário da exploração clássica, que vinha de fora, o indivíduo agora é explorado por si mesmo, e isso o conduz a um estado de exaustão que, como aponta Han, frequentemente se manifesta em doenças psíquicas como a depressão e o Burnout.

O cansaço extremo, portanto, é uma característica intrínseca ao sujeito de desempenho, que está permanentemente ansioso por alcançar resultados, sem perceber que essa pressão está destruindo sua saúde mental e física.

A ansiedade por resultados é intensificada pela cultura do empreendedorismo, que transforma todas as atividades humanas em projetos mensuráveis e lucrativos. Nesse sentido, o tempo livre, o lazer e até mesmo as relações interpessoais são convertidos em tarefas com metas e prazos, gerando um ciclo vicioso de produtividade e comparação. A busca incessante por sucesso e reconhecimento, alimentada pelas redes sociais e pelos ideais neoliberais, gera uma ansiedade que nunca pode ser plenamente satisfeita, pois o sucesso é sempre medido em relação ao desempenho dos outros.

Essa ansiedade por resultados se torna particularmente evidente no campo profissional, onde as metas impostas são muitas vezes inalcançáveis, levando os indivíduos a sentirem que nunca estão à altura das expectativas. Essa dinâmica cria um ambiente propício para o surgimento de doenças mentais, uma vez que a percepção de fracasso constante abala profundamente o bem-estar psicológico.

Han também critica a ideia de liberdade promovida pela sociedade neoliberal. O sujeito contemporâneo acredita que está livre para escolher seu próprio caminho e que pode alcançar qualquer objetivo através de esforço e perseverança. No entanto, essa liberdade é ilusória, pois está condicionada pelas normas de desempenho e produtividade. O indivíduo está preso a um ciclo de autoexploração e ansiedade por resultados, onde qualquer falha é vista como uma insuficiência pessoal.

A liberdade, segundo Han, deveria estar associada à possibilidade de dizer "não", de se recusar a entrar no ciclo incessante de produção e consumo. No entanto, na sociedade de desempenho, essa recusa é quase impossível, pois o indivíduo é constantemente bombardeado com a necessidade de ser produtivo, eficiente e bem-sucedido. A ansiedade por resultados, nesse sentido, é um reflexo da ausência de verdadeira liberdade no mundo contemporâneo.

Byung-Chul Han nos oferece uma análise profunda da ansiedade por resultados na sociedade do cansaço. Em um mundo onde o indivíduo se autoexplora e se torna prisioneiro de sua própria busca por produtividade, a ansiedade se torna uma constante.

Vivemos em um tempo de excessos: excesso de informações, de tarefas, de estímulos, e isso nos conduz a uma exaustão generalizada. O sujeito da sociedade do cansaço é aquele que, buscando sempre mais, acaba perdendo o essencial: o tempo de descanso, de contemplação e de liberdade. A obra de Han, ao problematizar essas questões, nos convida a refletir sobre o modelo de vida que adotamos e sobre as consequências psíquicas e sociais da pressão por resultados.

 

Shutterstock - Imagem ilustrativa de ansiedade

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