A educação no século XXI enfrenta uma crise profunda, marcada por desafios como a desigualdade social, a mercantilização do ensino e a crescente desvalorização do papel do professor. Sob a influência do neoliberalismo, a educação tem sido cada vez mais tratada como um produto, com escolas e universidades se transformando em mercados competitivos, priorizando resultados imediatos e métricas de desempenho. Essa lógica compromete a função primordial da educação: formar cidadãos críticos, conscientes e capazes de transformar a sociedade. Pensadores como Paulo Freire e Hannah Arendt nos alertam sobre a importância de uma educação que vá além do acúmulo de informações, defendendo uma prática educativa voltada para a reflexão e a emancipação humana.

A desigualdade é um dos maiores desafios nesse cenário, em que as oportunidades de acesso e qualidade variam drasticamente entre diferentes classes sociais. A educação, que deveria ser uma ponte para a equidade, muitas vezes perpetua desigualdades estruturais. As escolas públicas, especialmente em países periféricos, carecem de recursos, o que contrasta fortemente com o privilégio das escolas privadas, que atendem a uma minoria. Como resultado, temos um sistema dualista que reforça a divisão social, comprometendo o ideal de uma educação democrática. Nesse contexto, as ideias de John Dewey sobre a educação como um bem público podem ser interessantes, na medida em que nos direciona à compreensão de que o desenvolvimento de uma sociedade democrática depende de uma educação acessível e de qualidade para todos.
Outro aspecto preocupante da crise educacional é a perda de valores humanistas, exacerbada pela ênfase no utilitarismo e a ênfase na formação voltada exclusivamente para o trabalho formal. A educação, em muitos casos, tem se limitado a formar mão de obra para o mercado de trabalho, deixando de lado o cultivo do pensamento crítico, ético e criativo. No entanto, precisamos reconhecer que a formação deve ir além das necessidades econômicas e incluir o fortalecimento da empatia, da justiça e da responsabilidade social. Esse enfoque humanista é crucial para que a educação recupere seu papel de promover uma formação integral, que respeite a diversidade e o bem comum.

Por fim, o papel do professor se encontra em uma encruzilhada. À medida que a sociedade digital avança e os modelos de ensino se transformam, o professor é frequentemente visto como um simples transmissor de conteúdo, desvalorizado tanto em termos de status social quanto salarial. No entanto, faz-se necessário, cada vez mais, enfatizar que o professor continua sendo uma figura central no processo de formação crítica, cidadã e humanista dos estudantes.Neste sentido, o aprendizado não é apenas transmissão de conhecimento, mas uma construção conjunta, seja científica, social, cultural, histórica, filosófica, política, e tantas outras. Essa construção envolve a participação ativa de educandos e professores em um processo dialógico, em que ambos são transformados pela experiência da educação. O ato de educar vai além do conteúdo acadêmico, englobando o desenvolvimento do pensamento crítico, a formação de valores éticos e a preparação para a vida em sociedade. Dessa forma, a educação deve ser vista como um espaço de criação e reflexão, em que cada indivíduo pode contribuir e ser desafiado a pensar sobre o mundo em que vive.

Em síntese, a superação da crise educacional no século XXI depende de uma profunda reavaliação do papel da escola e do professor. É preciso resgatar a educação como prática de liberdade, em que a autonomia do pensamento e a capacidade de questionar são fomentadas. Mais do que nunca, a educação precisa ser um espaço de transformação, no qual o conhecimento é não apenas reproduzido, mas também produzido coletivamente, com o objetivo de promover uma sociedade mais justa, inclusivae solidária. Assim, repensar o modelo educacional atual significa reconectar o processo de ensino e aprendizagem com a vida concreta dos indivíduos, oportunizando que a educação seja um instrumento de emancipação e de construção de um mundo mais humano e equitativo.

 

Coluna Jungley - .

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Jungley Torres

Filosofia

possui formação em filosofia e pedagogia. Área de pesquisa e atuação: desdobramento dos aspectos ontológicos, existências, hermenêuticos, da subjetividade e fenomenologia. Estudo de discursos e saberes que constituem as práticas educativas; Educação e Linguagem, com enfoque no discurso pedagógico contemporâneo.

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