Definir que o que é filosofia nunca foi uma tarefa simples. Ao longo da história, filósofos apresentaram diversas perspectivas sobre o que a caracterizam. Em vez de uma definição fixa e conclusiva, parece-me mais adequado compreender a filosofia um movimento contínuo e inacabado em busca do saber. Esse “conhecer contínuo”, como nos ensina a tradição filosófica, não é algo definitivo ou estático, mas um processo dinâmico, sempre em construção, que se realiza por meio da reflexão crítica e da busca incessante pela sabedoria teórico-prática. A filosofia, portanto, é mais do que um conjunto de respostas prontas; é, fundamentalmente, uma constante abertura à dúvida, à interrogação e à descoberta, características que moldam a sua natureza dialógica.


Esse movimento constante de reflexão também se reflete na educação, que, assim como a filosofia, deve ser compreendido como uma prática inacabada. A educação não se limita a transmitir conhecimento de formação objetiva e até impessoal, mas deve ser uma ação que humanize, que regular o outro e valorizar a autonomia do educando. Ao considerar a educação em sua dimensão mais profunda, percebemos que seu objetivo não deve ser o de “modelar” os indivíduos, mas, sim, o de promover a consciência crítica e a emancipação.


Neste sentido, educar não se limita à mera transmissão de conteúdo ou à reprodução de modelos preestabelecidos; educar, em seu verdadeiro significado, é promover a “consciência de si”, do “outro”, das coisas que estão às suas voltas e do pensamento crítica. Trata-se de uma educação que respeite a autonomia dos indivíduos, que os encoraje a refletir e a desenvolver um pensamento autônomo. Para que a nossa democracia seja plenamente realizada, ela não deve apenas “funcionar”, mas operar conforme seu conceito, ou seja, promover indivíduos emancipados, capazes de pensar e agir de maneira autônoma, crítica e consciente. Em outros termos, educação, portanto, é aquela que contribui para a formação de cidadãos críticos, preparados para questionar, transformar e participar na construção de uma sociedade mais justa e democrática.


Vivemos em um contexto educacional em que as práticas pedagógicas muitas vezes se distanciam da proposta de uma educação humanizadora, refletindo em muitos casos a continuidade de um modelo autoritário e unidirecional de ensino. Contudo, uma educação que se pretenda democrática e eficaz deve ir além da simples reprodução de saberes ou da imposição de um modelo único. Ela deve ser um meio de emancipação, que construa em cada educando a capacidade de questionar, refletir e agir no mundo.
Assim, a tarefa do professor não é de “modelar” seus “alunos” de acordo com um padrão imposto, mas de promover um ambiente de aprendizagem que favoreça a autonomia, o pensamento crítico e a formação de uma consciência reflexiva. Em tempos de grandes desafios educacionais, é importante que uma prática pedagógica se oriente por essa perspectiva filosófica, buscando sempre a humanização no processo de ensino-aprendizagem.


Nesse sentido, a filosofia nos oferece múltiplas possibilidades para uma educação transformadora, que vai além da mera transmissão de saberes. Ela propõe uma prática educativa que contribui para a formação de cidadãos emancipados, críticos e conscientes de seu papel ativo na sociedade. A verdadeira missão do educador, portanto, é ajudar seus educandos, por meio de um diálogo constante e reflexivo, a desenvolver suas potencialidades enquanto pensadores independentes. Essa tarefa exige do professor não apenas o domínio do conteúdo, mas, sobretudo, a capacidade de criar um ambiente de aprendizagem que fomente a reflexão, a autonomia e o compromisso com a construção de um mundo mais justo, solidário e democrático. A educação filosófica, ao se pautar nesse princípio, não se limita ao ensino de conteúdos, mas se expande para a formação ética e política do ser humano, preparando-o para questionar, transformar e, fundamentalmente, contribuir para a criação de uma sociedade mais equitativa.

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Jungley Torres

Filosofia

É professor com formação em Filosofia, História, Ciência da Religião e Pedagogia. Suas principais áreas de atuação e pesquisa abrangem Filosofia da Educação e Hermenêutica Filosófica, com ênfase em desdobramentos ontológicos, existenciais e fenomenológicos. Destaca-se, sobretudo, o interesse por temas relacionados à intersubjetividade, aos saberes que orientam as práticas pedagógicas e ao discurso pedagógico contemporâneo. Suas pesquisas concentram-se na linguagem como eixo central da relação entre ser humano e mundo, bem como no diálogo, concebido como fundamento da práxis pedagógica.

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