A arte sempre foi mais do que uma mera expressão estética; ela é, por excelência, um modo de manifestação da criatividade humano de ser no mundo. Desde a Grécia Antiga, os filósofos compreenderam que a arte não apenas embeleza o mundo, mas também questiona, provoca e amplia os horizontes da experiência humana. De modo a exemplificar esse caráter provocativo da arte, Platão via a arte com desconfiança, temendo seu poder de ilusão, enquanto Aristóteles a considerava essencial para a catarse e para a compreensão da condição humana.

Esse embate filosófico inicial demonstra o quão central a arte sempre foi para o pensamento ocidental. No Renascimento, a arte e a filosofia se entrelaçaram de maneira ainda mais evidente. Leonardo da Vinci personificou essa fusão, ao integrar ciência, arte e filosofia em suas criações, demonstrando que a imaginação artística poderia ser também um método de investigação do real; um caminho legítimo para o conhecimento e de representar ideias. No século XX, pensadores como Walter Benjamin e Theodor Adorno analisaram a arte como resistência política e meio de reflexão crítica, uma ideia que reverbera até hoje. O fato é que, ao longo da história, pediríamos citar vários exemplos de entrelaçamento entre o modo humano de ser, de exercer seu pensamento crítico/filosófico e a arte em sua potencialidade.

No contexto brasileiro, a arte sempre se colocou como meio de expressão, resistência e possibilidades. Desde as manifestações indígenas, passando pela fusão cultural dos africanos escravizados e dos colonizadores europeus, a arte no Brasil sempre foi um campo de luta e reinvenção. No Modernismo de 1922, por exemplo, artistas como Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade buscaram romper com modelos eurocêntricos e buscaram uma identidade própria, misturando crítica social e experimentação estética. Durante a ditadura militar (1964-1985), a arte se tornou um instrumento fundamental de resistência. De modo a exemplificar, as músicas de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil desafiavam o autoritarismo, enquanto o teatro de Augusto Boal, com o Teatro do Oprimido, criava espaços de contestação e conscientização. Essa tradição continua viva na contemporaneidade. Com efeito, o grafite nas ruas das grandes cidades, o cinema independente e a literatura periférica expressam as tensões e esperanças da sociedade brasileira.

Mais do que nunca, em tempos de avanço tecnológico e desafios sociais, a arte se coloca como um espaço de liberdade, de emponderamento, de reinvenção e de múltiplas possibilidades. Em um mundo em que a racionalidade técnica muitas vezes sufoca a imaginação, a arte permanece como um território onde o pensamento pode ser livre, inovador e subversivo. Como afirmou Nietzsche, “temos a arte para não morrer da verdade”. No Brasil, essa máxima se traduz na forma como a arte segue resistindo e criando futuros possíveis.

Portanto, é fundamental que a arte esteja presente em todos os espaços da sociedade, sendo fundamental sua presença nos espaços públicos (leia-se também nas escolas). Reitera-se que a educação artística/as artes desenvolve a sensibilidade, a criatividade e o pensamento crítico, formando cidadãos mais reflexivos e engajados. Nos entrames da vida social, a arte atua como um elo entre diferentes saberes e culturas, promovendo inclusão e diálogo. Em um mundo cada vez mais fragmentado, garantir o acesso à arte significa investir em uma sociedade mais humana, criativa, crítica e reflexiva, aberta às possibilidades de um mundo novo, em que é possível ressignificar a própria existência.

 

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Jungley Torres

Filosofia

É professor com formação em Filosofia, História, Ciência da Religião e Pedagogia. Suas principais áreas de atuação e pesquisa abrangem Filosofia da Educação e Hermenêutica Filosófica, com ênfase em desdobramentos ontológicos, existenciais e fenomenológicos. Destaca-se, sobretudo, o interesse por temas relacionados à intersubjetividade, aos saberes que orientam as práticas pedagógicas e ao discurso pedagógico contemporâneo. Suas pesquisas concentram-se na linguagem como eixo central da relação entre ser humano e mundo, bem como no diálogo, concebido como fundamento da práxis pedagógica.

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