O economista Pedro Rossi, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e vice-presidente do Fundo Global para uma Nova Economia, é o convidado do programa DR com Demori desta terça-feira (25) na TV Brasil. No recém-lançado livro Brasil em Disputa, uma Nova História da Economia Brasileira, ele se dedica a decifrar a guerra entre os modelos neoliberal e de agenda distributiva.
Segundo Rossi, essa disputa remete à Constituição de 1988, que trouxe capítulos sociais e direitos amplos, mas sempre enfrentou resistência de setores do mercado. E cita o ex-presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos, avô de Roberto Campos Neto, também ex-presidente do BC. “Ele dizia que a Constituição de 88 era um dicionário de utopias. Era uma ode à preguiça. Porque ele está criticando justamente os capítulos sociais da Constituição. A legislação trabalhista, ele está criticando a existência de uma Previdência Social, a existência de um SUS universal, integral, a existência de sistemas públicos de educação. Ou seja, na visão liberal, o Estado não deve se meter nisso. E, desde o Roberto Campos, até os dias de hoje, a gente vê esse discurso se renovando”, afirma.
Para o economista, essa tensão ficou evidente nos últimos governos. Enquanto as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff mantiveram políticas mais alinhadas à Constituição, os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro aprofundaram as reformas neoliberais, reduzindo a presença do Estado e desmontando políticas distributivas. “Temer e Bolsonaro foram muito mais reformistas do que Lula e Dilma. Lula e Dilma jogaram com a Constituição. Fizeram uma reforma aqui, outra ali, mas o que é reformista mesmo é essa onda neoliberal que desmonta a Constituição”, avalia.
A crise do neoliberalismo e os novos modelos econômicos
Pedro Rossi analisa também o cenário global e a crise do neoliberalismo. Ao comentar o caso da Argentina sob o governo de Javier Milei, Rossi classificou a experiência econômica do país como um experimento que vai fracassar, assim como políticas econômicas implementadas sem planejamento estratégico em outros países, como nos Estados Unidos. "O Milei é um libertário, coisa que vai além do neoliberal, ele é o contrário da própria existência do Estado, quase. Então o experimento dele, na minha opinião, vai fracassar redondamente, assim como o experimento do Trump, que não tem estratégia”, diz.
O economista ressalta que o mundo passa por um período de transição, sem um modelo econômico claramente estabelecido, como foi o modelo da globalização. “O neoliberalismo em crise está produzindo modelos que são modelos completamente diferentes. E, eventualmente, essa extrema-direita que venha ao poder com a crise neoliberal pode ser superada [...] pode surgir no campo progressista uma alternativa ao neoliberalismo que não seja autoritária, que não seja o próprio reforço do neoliberalismo reformulado, repensado.”
Para Rossi, a crise iniciada em 2008 com o colapso do subprime nos Estados Unidos ainda não foi totalmente resolvida, e as relações entre Estado, mercado e sociedade seguem em disputa no cenário internacional. "Nós estamos ainda vivendo. A gente não saiu de um momento de repensar a ordem internacional e a relação Estado-mercado-sociedade. Para onde a gente vai, isso está em disputa."