Pessoas altamente qualificadas, que frequentaram o ensino superior público e possuem pós-graduação. Esse é o perfil da maior parte das pessoas negras que ocupam os cargos de liderança no Poder Executivo. Embora a porcentagem de líderes negros e indígenas tenha crescido nos últimos 25 anos, elas relatam que ainda há barreiras para a presença nos principais postos, sobretudo em posições de alto escalão.
Os relatos fazem parte do estudo inédito Lideranças Negras no Estado Brasileiro (1995-2024), divulgado nesta sexta-feira (28). A pesquisa foi realizada pelo Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial (Afro-Cebrap), com apoio da Fundação Lemann e da Imaginable Futures.
A pesquisa mostra que houve um aumento de 17 pontos percentuais na quantidade de pessoas negras e indígenas em cargos de liderança nos ministérios, autarquias e fundações entre 1999 e 2024. Essa porcentagem passou de 22% para 39% em 25 anos. Homens brancos seguem, no entanto, ocupando sozinhos a maior fatia das posições de liderança, 35%.
Entre junho e dezembro de 2024, os pesquisadores fizeram entrevistas aprofundadas com 20 lideranças autodeclaradas negras, pretas ou pardas (seguindo as nomenclaturas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que ocuparam ou ocupam cargos de ministros, secretários, assessores, chefias, diretorias e coordenações entre 1994 e 2024. Os entrevistados não foram identificados. São dez homens e dez mulheres com idades entre 31 e 65 anos de todas as regiões do país.
Segundo a coordenadora da pesquisa, a socióloga e professora da Universidade Federal Fluminense, Flavia Rios, um dos achados da pesquisa é que as pessoas que ocuparam ou ocupam cargos de liderança são altamente qualificadas.
“Essas pessoas eram altamente qualificadas, mas muito qualificadas na sua formação. Não só uma qualificação educacional, mas uma qualificação profissional. As pessoas que a gente entrevistou eram realmente pessoas com conhecimento sobre o que fazem e um conhecimento formal técnico de universitário, de estudos no exterior, etc, muito grande. Então a gente tem, na verdade, uma qualificação desses quadros que é algo que chama bastante atenção”, diz.
O estudo revela também que a maioria das lideranças negras vem de classes populares.
“É óbvio que, se a gente sabe que na estrutura social, as pessoas negras estão em condições mais desvantajosas, evidentemente parece se esperar que aquelas que nós vamos encontrar no Estado, elas vão ter origens sociais populares e foi de fato o que aconteceu. Raramente, a gente encontrou alguém que viesse de trajetória de elite ou que tivesse um pai embaixador, por exemplo. Não. Era: ‘Eu sou embaixador, meu pai era pedreiro’, essa que é a que são as histórias”, diz Rios.